Venda sem controle na web
31/05/2013
"Venda sem controle na web
Autor(es): MARIANA LABOISSIÈRE
Correio Braziliense - 31/05/2013
Além de vendida em lojas especializadas, a nova fórmula do OxyElite Pro é oferecida na internet acompanhada de informações falsas. Os anunciantes, alguns do DF, alegam que o produto é liberado, apesar de proibido pela Anvisa
Se o comércio da nova fórmula do OxyElite Pro voltou às lojas especializadas do Distrito Federal como denunciou o Correio na edição de ontem, na internet, a facilidade em adquirir o suplemento alimentar proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é ainda maior. Pelo menos 10 páginas visitadas pela reportagem na rede mundial de computadores oferecem a versão mais recente do produto. Mas não só isso. Algumas delas também vendiam o produto antigo, além de similares, como Jack 3D e Lipo-6 Back — todos com a dimetilamilamina (DMAA) na composição, substância atestada como prejudicial à saúde e suspensa no Brasil em 3 de julho de 2012.
Os clientes dos produtos anunciados na rede estão expostos a diversos riscos. A possibilidade de receberem frascos de procedência duvidosa é apenas um detalhe diante das falsas promessas divulgadas por alguns vendedores. Para convencer o cliente, muitos deles fazem alegações sobre as supostas legalidade e segurança dos compostos. Um dos anúncios do OxyElite Pro, por exemplo, estampa a frase: “Super termogênico (…), agora com nova fórmula, muito mais seguro e eficaz (sic)”. As afirmações, porém, são falsas diante da falta de registro do composto no órgão sanitário, mas também com base em relatos de especialistas sobre a falta de análises específicas no conteúdo da mistura.
É possível encontrar o novo OxyElite a preços que variam de R$ 120 a R$ 200. Para se proteger, os contrabandistas usam pseudônimos ao criar sites especializados e perfis em redes sociais. Ontem, o Correio entrou em contato, por telefone, com um anunciante do Gama. Em uma página de compra e venda de produtos, ele oferece as duas versões do suplemento alimentar conhecido como “potente emagrecedor”. Diante da dúvida do suposto cliente em adquirir uma das fórmulas, ele informou: “Eu não posso dizer que ele vai fazer mal para você. Eu vendi vários e ele não fez mal para ninguém. Pode ser que ele faça, mas cada corpo tem uma reação diferente”. Questionado sobre a legalidade, ele disse se tratar de um produto liberado para venda e sem efeitos nocivos à saúde (leia diálogo na íntegra).
Por telefone, a reportagem também entrou em contato com diversos estabelecimentos especializados na venda de suplementos alimentares no DF. A maioria dos atendentes de lojas do Plano Piloto disse não comercializar o complemento por causa do veto sanitário. Um deles, embora não tenha oferecido a suplementação, deu o caminho para a compra. “Ele acabou de chegar ao Brasil. Por isso, não sei onde você vai conseguir aqui em Brasília. Mas, na internet, é só o que tem. É muito fácil comprar por lá”, explicou.
Fóruns se multiplicam em sites especializados e nas redes sociais. Muitos usuários trocam informações sobre fórmulas e efeitos ocasionados pelo uso do produto. Numa das conversas, um deles diz o seguinte sobre a nova versão do OxyElite Pro: “(…) Parece que adicionaram ioimbina. Ficou semelhante ao Lipo-6”. Ele se referia ao Lipo-6 Black, mais um suplemento sem a habilitação da Anvisa. Outro integrante do grupo completou: “Aparentemente, foi isso (…). Extremamente provável que a ioimbina esteja subdosada, como em outros termos. No fim das contas, a diferença foi pequena e, se duvidar, os (efeitos) colaterais serão piores”.
Polícia
As pessoas que forem flagradas comercializando suplementos irregulares podem responder por crime contra a saúde pública (leia O que diz a lei). A delegada da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Ordem Tributária e Fraudes (Corf ), Cláudia Alcântara, esclarece que o produto sofreu alteração da fórmula nos Estados Unidos, mas não no Brasil. “Ele precisa ser registrado na Anvisa, portanto, comercializá-lo continua sendo um ato ilícito. Ele é vendido sob a promessa de fins terapêuticos e medicinais, então, enquanto não forem realizados testes sobre os efeitos colaterais dele aqui, a mistura fica irregular”, explicou.
O proprietário do estabelecimento responsável pela venda de produtos proscritos no país pode ainda pagar multa de até R$ 1,5 milhão. Cláudia alerta que a venda pela internet não está fora do alcance da polícia. “A pessoa que divulga esses compostos em páginas on-line também tem a intenção de vender. Então, incorre em crime. Ela induz o usuário a achar que aquilo é legal e não faz mal à saúde. Nesse sentido, estamos trabalhando para identificar os responsáveis por esses sites. Eles também serão detidos”, garantiu."
Fonte: Correio Braziliense
Imagem: Ensp.fiocruz.br