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UTI dos horrores

21/02/2013

"UTI dos horrores

A diretora da UTI, Virgínia Soares, no momento da prisão: 18 mortes investigadas (Henry Milleo/Agência de Notícias Gazeta do Povo )

Depoimento de ex-funcionário complica médica presa acusada de praticar eutanásia. Segundo ele, ela queria liberar leito para pacientes de convênio

Maria Clara Prates

As investigações sobre a acusação da prática de eutanásia - morte com consentimento do paciente - na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Evangélico, em Curitiba, estão sendo mantidas sob sigilo pela Polícia Civil e pelo Ministério Público da capital paranaense. Na terça-feira foi presa a médica Virgínia Soares, diretora da área, acusada de ter praticado eutanásia em pelo menos 18 pacientes sob os seus cuidados. A apuração dos casos suspeitos começou há cerca de um ano, após denúncias feitas por funcionários do próprio hospital, informou a delegada do Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde de Curitiba, Paula Christiane Brisola, que começou a ouvir ontem 30 funcionários e ex-trabalhadores do Evangélico, segundo maior hospital da cidade. Um ex-técnico de enfermagem do hospital, que trabalhou por dois anos com Virgínia, diz que ela interrompia os tratamentos de pacientes do SUS para liberar os leitos para pacientes de planos particulares. Hoje ele é enfermeiro em outro hospital e quer fazer a denúncia à polícia. "Se não havia paciente de convênio esperando leito, ela prosseguia o atendimento."

Como parte das investigações, dois médicos foram indicados pela Secretaria de Saúde de Curitiba e pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná para trabalhar como observadores nos procedimentos realizados na UTI do hospital. Foram indicados os médicos Luiz Carlos Sobania e Maurício Marcondes, pelo Executivo municipal e pelo conselho de classe, respectivamente. Os dois têm vasta experiência, sendo que Sobania já foi secretário de Saúde do município e diretor do Hospital das Clínicas. Já Marcondes tem no currículo a direção do Hospital do Bairro Novo. O estado também participa da comissão de sindicância que vai apurar as mortes ocorrida no Evangélico, paralelamente ao inquérito policial.

DEPOIMENTO A médica Virgínia, que está presa no Complexo Médico-Penal de Pinhais (PR), também prestou depoimento ontem, mas o teor não foi revelado. O advogado de defesa, Elias Mattar Assad, informou que ainda não teve acesso ao inquérito contra Virgínia, mas disse que vai pedir cópias dos procedimentos, inclusive de mídias incluídas no processo. Apesar disso, Assad classificou a prisão de sua cliente como "precipitada". "Vou entrar com um pedido de revogação dessa prisão precipitada. Ela mora há mais de 20 anos no mesmo endereço, desde 1988 é médica no Evangélico e nunca teve nada contra ela, nenhum registro no Conselho Regional de Medicina. É uma pessoa de bem", disse.

O advogado afirmou estar convicto da inocência da cliente, que, segundo ele, foi vítima de equívoco de companheiros de trabalho que não compreendiam o jargão da medicina intensiva. Ele também fez questão de ressaltar que a médica está tranquila. Além da acusação de eutanásia, prática vedada no Brasil, Virgínia é acusada de maus- tratos aos pacientes.

O Ministério Público, por meio de nota, confirmou o cumprimento de mandados de busca e apreensão de prontuários médicos e outros documentos relativos a internações e mortes de pacientes, bem como o mandado de prisão temporária da médica. Informou que acompanha as investigações criminais e os procedimentos necessários para garantir a continuidade da assistência dos usuários do Sistema Único de Saúde no hospital.

Também por meio de nota, o Evangélico afirmou que não tem conhecimento adequado dos fatos em virtude de o inquérito ser sigiloso, mas que instaurou uma sindicância interna para apuração da denúncia. A instituição reconhece a competência da médica presa e ignora qualquer ato cometido por ela que tenha ferido a ética profissional. (Com agências)"

Fonte: Cofen.com

Imagem: Cofen.com