Faça uma busca abaixo:
Posso Ajudar?

Uma nova revolução

10/02/2013

Uma nova revolução

Resistência. Atualmente, cada preservativo é testado antes de sair das indústrias e ser distribuído ao mercado. Mesmo assim, pesquisas buscam materiais mais eficientes de proteção, que ainda não chega a 100%, contra vírus e gravidez

Inovação. Modelo de silicone e com design como um acordeon

Flávia Milhorance

Elas já são coloridas, com sabores artificiais, distribuídas de graça, como faz o governo federal, que nos dias de folia disponibilizará cerca de 70 milhões de camisinhas aos estados brasileiros. Mas a resistência pelo uso ainda existe, a preocupação com doenças sexualmente transmissíveis e com a gravidez indesejada passa longe da cabeça de boa parte. Por isso é que pesquisadores e empresas de vários países se debruçam sobre novos materiais, mais resistentes; e novas formas, mais anatômicas, para colombina, pierrot, Christian Grey, dançarina de cabaré ou pirata nenhum botar defeito. Elas não chegam ao mercado para este carnaval, mas já dá para ir imaginando o que vem por aí.

- As companhias de preservativos começaram a focar na sensação de prazer. A maioria das relações sexuais ocorre porque é prazerosa. Portanto, dada a importância da camisinha, é preciso que aqueles que as produzem entendam o que os consumidores gostam e como elas contribuem para o sexo - explicou Michael Reece, diretor adjunto de pesquisa e pós-graduação da Escola de Saúde Pública da Universidade de Indiana (EUA), responsável por um dos maiores estudos em comportamento sexual.

É o que também defende o designer de produtos Daniel Resnic, dono da americana Strata, responsável pela Origami Condoms: "funcionalidade e prazer devem andar juntos, sem negligenciar um ou outro". Em 1994, descobriu ser HIV positivo, o provável resultado de uma camisinha rasgada, o que o fez se envolver na causa. A primeira mudança que implementou foi no material: um adeus ao látex, usado há quase um século, para dar lugar ao silicone. Segundo ele, é mais flexível, tem menos fricção e bloqueia vírus com mais segurança. No design, uma espécie de acordeon promete transformar o sexo com camisinha melhor do que sem ela.

Preservativo para sexo anal é uma das apostas

A grande novidade, na verdade, é o estudo para a criação de um preservativo especial para o sexo anal, uma das principais formas de transmissão do vírus HIV. Ele levaria em consideração a diferente anatomia, e o parceiro ativo não a vestiria, seria parecido com o diafragma, que já é usado informalmente por alguns no sexo anal.

- O preservativo anal teria um consumidor esperado de homossexuais masculinos, no entanto, o maior mercado para este dispositivo é de heterossexuais, simplesmente devido às proporções populacionais, de 10% de gays contra 90% de héteros - afirmou Resnic, por email.

Com patrocínio do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, as pesquisas estão no estágio de testes clínicos. De acordo com Resnic, está prevista uma avaliação da Food and Drugs Administration (FDA), a agência regulatória do país, em outubro de 2014. Em seguida, na União Europeia e no Brasil.

Se aprovado, seria uma enorme mudança comparada com o início do uso de preservativos. A primeira referência na literatura médica é do século XVI, quando o anatomista Gabriele Falloppio inventou uma espécie de linho feito de pele de animais, intestino e bexiga, para ser usado contra a sífilis. Diz a lenda que o galanteador Casanova chegou a testá-lo nos carnavais de Veneza, mas não curtiu. Depois de outras experiências malsucedidas, o látex chegou por volta da década de 1920, e pouco mudou nos anos subsequentes.

Um novo protótipo de diafragma, o SILC, também vem sendo testado pelo Programa de Pesquisa Contraceptiva (Conrad). Uma barreira de silicone se diferenciaria de outros dispositivos por ser de tamanho único, capaz de se adequar a qualquer corpo feminino. Além disso, diafragmas em geral impedem a gravidez e o contágio de algumas doenças sexualmente transmissíveis, mas não são eficazes contra a Aids.

- A Conrad irá testar o SILC junto com o gel tenofovir, o primeiro produto que mostrou reduzir infecções, como o HIV. Ele já vem sendo testado em nove países no sul da África - defendeu a pesquisadora Annette Larkin.

Gel contra Aids é testado de diferentes formas

Além da Conrad, outros centros põem o gel microbicida no front das pesquisas. Na própria Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o setor de estudos genéticos criou, a partir de algas, um gel capaz de prevenir a Aids. O objetivo, neste caso, seriam países, como alguns africanos, em que até 60% das mulheres foram contaminadas, e onde a opinião prevalente é a do homem, que tem maior resistência quanto ao uso do preservativo. A Universidade Laval, de Quebec, no Canadá, vem trabalhando num estudo parecido. Um aplicador introduziria o gel da "camisinha invisível".

- Homens sempre tiveram o controle sobre a camisinha. Mulheres não têm voz. Nosso objetivo seria ajudar as mulheres - disse a professora Rabeea Omar, à revista "New Scientist".

Na Universidade de Washington, um tipo de fibra, chamada electrospun, seria aplicada na vagina e dissolveria o germicida, eficiente para a contracepção e ainda preveniria contra o HIV.

- Nós já temos as drogas para fazer isto. O que precisamos é de uma tecnologia para aplicá-la de forma que as torne mais potentes e façam com que a mulher queira utilizá-la - defendeu Kim Woodrow, autora do estudo publicado na "PLos One" e premiado pela Fundação Bill e Melinda Gates.

O pesquisador Michael Reece ainda pondera sobre esta tecnologia de germicidas:

- Mais pesquisas ainda são necessárias. Alguns previnem contra gravidez e HIV, mas não contra infecções de pele, como herpes e verrugas genitais. E também precisamos entender melhor como eles seriam utilizados - disse ele, que ainda garante que já houve mudanças significativas nos últimos cinco anos. - Hoje elas vêm em diferentes formas, texturas e materiais, com lubrificantes que trazem mais prazer. A indústria de preservativos tem seguido as preferências dos consumidores.

Fonte: Cofen.com

Imagem: Cofen.com