Uma nova agenda global
19/11/2012
Uma nova agenda global
Manish Bapna e Vinod Thomas
Na recente reunião de chefes de Estado na ONU, em Nova York, designou-se uma comissão para elaborar um plano de desenvolvimento global visando a acabar com a pobreza. Essa iniciativa pode parecer inoportuna, levando em conta que uma grande parte do mundo continua em recessão econômica. Contudo, esta meta ambiciosa deveria ser altamente priorizada na agenda global por duas convincentes razões.
Primeira, porque temos uma oportunidade de dar continuidade ao avanço na redução da pobreza ocorrida nas duas últimas décadas. Com o estímulo proporcionado pelas Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDMs), o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia caiu de 43% da população mundial em 1990 para cerca de 22% em 2008. Segunda, como os líderes mundiais reconheceram na Cúpula Rio+20 em junho, devemos traçar um caminho que confronte as profundas mudanças ambientais e sociais no mundo inteiro.
Apesar da redução na taxa de pobreza, 1,3 bilhão de pessoas no mundo em desenvolvimento continuam a viver com menos de US$ 1,25 por dia. Muitas sofrem os efeitos da escassez de água, da perda de florestas e das mudanças climáticas. Portanto, seria um erro apenas ampliar as metas e os prazos das atuais MDMs, que perdem a validade em 2015. Ao contrário, precisamos de uma estratégia que vincule a pobreza e o ambiente e desenvolva os resultados das MDMs, em três importantes áreas:
Inicialmente, a estratégia deve se concentrar na sustentabilidade ambiental e social. Desde a Índia e a Tailândia até o Brasil e os Estados Unidos, os eventos climáticos extremos vêm prejudicando a população e o seu sustento. O crescimento econômico usou os recursos do planeta em um ritmo insustentável, frequentemente com maior impacto sobre os pobres. Mais de um bilhão de cidadãos dependem das florestas para o seu sustento, inclusive muitos brasileiros. Contudo, o rápido crescimento das taxas de desmatamento, muitas vezes impulsionado pela agricultura industrial, ameaça a sua subsistência. Cerca de 1,2 bilhão de pessoas também vivem em regiões onde há escassez de água. Não podemos solucionar a pobreza a menos que a sustentabilidade dos recursos naturais ocupe uma posição central na agenda.
Em seguida, chegou o momento de fazer com que a maior igualdade se torne uma meta global. Como foi demonstrado em uma grande parte da Ásia nos últimos anos, a desigualdade de renda limita o alcance da redução da pobreza gerada pelo crescimento econômico. As políticas que ampliam a disparidade entre ricos e pobres, como os impostos ou os subsídios regressivos, não apenas aumentam a pobreza, mas também estimulam as tensões sociais e políticas, dificultando ainda mais o crescimento. Quanto mais igualitária for uma sociedade, maior será a contribuição dos cidadãos de baixa renda para o crescimento e surgirão mais oportunidades de expansão econômica.
Em terceiro lugar, as novas metas devem visar à universalidade. As MDMs se concentram diretamente nos países emergentes. Não obstante, os novos desafios do desenvolvimento global, como a mudança climática, a saúde pública e a diminuição dos recursos naturais, necessitam de soluções nacionais e internacionais nas nações industrializadas e em desenvolvimento. As metas universais também ajudariam a dissipar a preocupação dos países em desenvolvimento de que o peso da ação cairia de forma desproporcional ou injusta sobre eles.
A cúpula Rio+20 começou a tratar da sustentabilidade, da equidade e da universalidade na luta contra a pobreza mundial. Mas, para que seja bem-sucedida, a nova agenda de desenvolvimento precisa ir além dos governos e das agências assistenciais. O plano deve envolver a iniciativa privada e mobilizar o público. A recém-criada comissão deve dar o próximo passo e transformar esse conceito em realidade.
Manish Bapna é diretor-executivo do Instituto de Recursos Mundiais e Vinod Thomas édiretor-geral de Avaliação Independente do Banco de Desenvolvimento Asiático
Fonte: Cofen.com
Imagem: Cofen.com