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Um país ameaçado pela hipertensão

09/09/2012

Um país ameaçado pela hipertensão

Levantamento global mostra que quase a metade dos brasileiros com idade entre 35 e 70 anos sofre de pressão alta. O índice é mais que o dobro do estimado pelo governo federal. Silenciosa, a doença acomete 80% das vítimas de derrameNotíciaGráfico

Um universo de 34 milhões de brasileiros com idade entre 35 e 70 anos e hipertensos, sendo que quase 16 milhões deles nem sequer sabem que têm a doença. O dado alarmante faz parte de informações preliminares do relatório da Perspectiva epidemiológica urbano-rural (Pure) apresentadas no Congresso Europeu de Cardiologia deste ano e contradiz as estimativas do Ministério da Saúde. O governo federal, de acordo com pesquisa realizada no ano passado, estima que a doença acometa 22,7% da população adulta, não 49,6%, como indica a Pure. E a discrepância ganha faceta ainda mais assustadora quando se leva em conta a existência no país de 35,3% de pré-hipertensos - pessoas, de acordo com o levantamento, com a pressão arterial acima do normal, mas que ainda não são consideradas doentes.

O distúrbio é um dos principais fatores de risco para graves doenças cardiovasculares. Cerca de 80% das pessoas que passam por um acidente vascular cerebral (AVC) são hipertensas. O histórico prévio de pressão arterial alta também é apontado na metade dos casos de enfarte cardíaco. A Pure analisou a realidade de 17 países, de cinco continentes, que foram divididos em quatro grupos de acordo com a faixa de renda econômica (veja arte). O conjunto do Brasil, considerado de renda alta/média, apresentou o maior índice de ocorrência do mal.

Segundo o cardiologista Álvaro Avezum, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, unidade ligada à Secretaria de Saúde de São Paulo, os dados da Pure relativos ao grupo em que o Brasil está inserido correspondem perfeitamente à realidade do nosso país. "Tivemos um nível de hipertensão na nossa região de quase 50%. Isso equivale a dizer que um a cada dois adultos estão com pressão alta. Alarmante é a palavra certa para caracterizar esse número. Especialmente porque o volume daqueles que têm pressão alta, sabem disso, tomam remédio e possuem os níveis controlados é desanimador: apenas 18%", detalha o médico. Avezum é o representante brasileiro no projeto.

Essa é a primeira vez no Brasil que os níveis de hipertensão foram medidos por meio de procedimentos médicos em uma grande sondagem. Os participantes do estudo não apenas se declararam hipertensos. Eles tiveram a pressão aferida no momento da avaliação e puderam ser diagnosticados. De acordo com os dados, o Brasil possui uma prevalência de hipertensão maior que a média global (40,7%), que corresponde também à taxa dos países de alta renda, como Canadá e Suécia. Em nações de renda média/baixa, o índice é de 39,6%. Nas de renda baixa, 32,2%.

Por mais elevados que sejam os dados de prevalência de hipertensão na população brasileira, eles não surpreendem o presidente do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Weimar Barroso. Segundo ele, os especialistas do país trabalham com 40% de prevalência da doença na população adulta. Para ele, o registro de 22,7% do Ministério da Saúde é equivocado. "Sabemos que esse número é muito maior. Trabalhamos com percentuais entre 35% e 40% nas aulas e em ações, mas estamos baseados em análises regionais, considerando que algumas são mais altas e outras mais baixas que isso", pondera. O que mais chamou a atenção de Barroso foi a quantidade de pré-hipertensos apresentada pela Pure. "São fortes candidatos a se tornarem hipertensos no futuro. Isso mostra que estamos vivendo uma epidemia de hipertensão no Brasil, com consequências drásticas", analisa.

Nefrologista e diretora da Sociedade Brasileira de Hipertensão, Frida Plavnik acredita que os dados apresentados no congresso na Europa não correspondem à situação atual da população brasileira. "Nessa faixa etária, temos uma prevalência de 30%. No Brasil, não acredito que chegaríamos aos 40%. O dado oficial é passível de crítica por ser uma entrevista ao telefone em que as pessoas, talvez, deixem de dar a informação corretamente. Ainda assim, considero essa prevalência superestimada", avalia. Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu à reportagem sobre a diferença entre os resultados do levantamento feito pelo órgão e pela Pure.

Fonte: Correio Braziliense

Imagem: Tudoemfoco.com