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Tipo de Leishmaniose ameaça saúde pública
13/01/2013
Tipo de Leishmaniose ameaça saúde pública
A visceral resulta em número maior de mortes do que a dengue no país
EDNA NUNES
Da Redação
O Ministério da Saúde (MS) divulgou, no final do ano passado, que no período de 2000 a 2011 o Pará estava entre os estados brasileiros com um número elevado de mortes provocado pela leishmaniose visceral (153 óbitos) se comparado aos casos de morte gerados pela dengue (116). Entretanto, representantes da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) e do Instituto Evandro Chagas (IEC) garantem que, por conta do diagnóstico precoce e das providências imediatas para realização do tratamento, a doença tem matado menos no território paraense.
A coordenadora do Programa de Leishmaniose da Sespa, a médica veterinária Mônica Fadul, explica que a leishmaniose visceral, conhecida como "calazar americano", é uma doença crônica, sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, perda de peso, apatia, anemia e aumento do volume do fígado e do baço (aumento do volume abdominal) e, quando não é tratada, pode evoluir e levar à morte do paciente. Fadul diz que, apesar de ser uma zoonose caracterizada como doença rural, recentemente, vem se expandindo para as áreas urbanas, passando a ser um crescente problema de saúde pública no País.
No Pará, há constatação da doença em 88 dos 144 municípios, com maior incidência em Santarém, Conceição do Araguaia (estes com a doença urbanizada), São Domingos do Capim, Tomé Açu, Salvaterra, Moju, Mocajuba, Igarapé Miri, Cametá, Cachoeira do Arari, Barcarena, Acará e Abaetetuba.
A médica informa que a doença é causada por um protozoário do gênero leishmania chagasi e tem como transmissor o inseto Flebotomínio Lutzonyia Longipalpis. "A infecção da doença ocorre por meio da picada do inseto, conhecido como 'inseto palha' e 'tatuquira', que tem no ambiente silvestre as raposas e marsupiais e, na área urbana, o cachorro, como reservatórios da leishmania", detalha Mônica Fadul.
Ela lembra que onde há mata o inseto pode estar presente. Entretanto, por conta do desmatamento e a entrada do ser humano no ambiente do animal, ele começa a se adaptar às zonas urbanas. O período de maior transmissão ocorre durante e logo após a estação chuvosa. Na capital, por não ter mais características de zona rural, até o momento, não foi confirmado caso de leishmaniose visceral. Porém, frisa Mônica, isso não quer dizer que não há uma atenção, porque a capital é ainda é rodeada por mata.
Santarém, Marajó e nordeste do estado lideram casos da doença
O pesquisador responsável pelo Laboratório de Leishmanioses do IEC, Fernando Tobias Silveira, explica que, no momento, o Estado do Pará tem três focos principais da doença: um na região oeste, onde o município de Santarém aparece como o mais comprometido; na região norte, o Arquipélogo do Marajó, mais especificamente, os municípios de Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari; e no nordeste paraense, que tem registro de casos em mais de 30 municípios, com destaque para Barcarena, Igarapé Miri, Moju, Tailândia e outros.
"Nesses municípios se encontram condições ecológicas e sociais propícias para a o aumento da transmissão da doença. Por isso, são considerados focos importantes e o Instituto Evandro Chagas vem realizando pesquisa, principalmente, sobre a transmissão da leishmaniose visceral nos municípios de Barcarena e Cametá e, recentemente, em Bujaru", conta o especialista. A previsão é que o estudo se prolongue por mais dez ou 20 anos, até que se desenvolva uma vacina para evitar a ocorrência da infecção humana pelo agente causal da doença.
Segundo Fernando Tobias Silveira, na região, foi constatada uma prevalência da infecção humana pelo agente da doença em torno de 14% dos moradores. Entretanto, enfatiza, não são todos que adoecem e, por conta disso, considera positivo que a maioria (cerca de 90%) dos infectados é resistente, não desenvolvem a doença. "A maioria dos doentes é criança, o que dá em torno de 70% e 30% são indivíduos adultos. Os idosos não têm uma participação importante nessa casuística", analisa ele.
A pesquisa do Instituto Evandro Chagas busca entender o mecanismo de interação entre o agente infeccioso e a resposta imune do indivíduo infectado. Isso é fundamental, declara Fernando Tobias Silveira, para se pensar no desenvolvimento de uma vacina contra a infecção pela Leishmania chagasi, para abortá-la e impedir que a pessoa seja vítima da doença.
Ele adianta que, a partir de fevereiro deste ano, o IEC deverá participar de uma parceria com o laboratório Leti, da Espanha, que tem um composto vacinal. A expectativa é, no final do ano, obter resultados que apontem êxito do composto vacinal.
O pesquisador Fernando Tobias Silveira informa que não existe no mundo uma vacina padronizada, ou seja, autorizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O que existem são estudos que avaliam compostos para saber da capacidade deles para prevenir o ser humano contra a doença.
2000 A 2011: MORTES POR DENGUE X MORTES POR LEISHMANIOSE VISCERAL
Unid. da Federação Mortes por dengue Mortes por leishmaniose visceral
Rondônia 46 1
Acre 20 0
Amazonas 42 0
Roraima 17 6
Pará 116 153
Amapá 13 0
Tocantins 22 173
Maranhão 114 334
Piauí 35 178
Ceará 258 268
Rio Grande do Norte 85 55
Paraíba 21 31
Pernambuco 136 117
Alagoas 73 58
Sergipe 64 53
Bahia 156 280
Minas Gerais 177 445
Espírito Santo 108 6
Rio de Janeiro 566 3
São Paulo 258 168
Paraná 44 5
Santa Catarina - 0
Rio Grande do Sul - 0
Mato Grosso do Sul 65 194
Mato Grosso 132 45
Goiás 262 28
Distrito Federal 17 8
FONTE: Sinan/Ministério da Saúde
Crianças e idosos são os mais vulneráveis
A coordenadora do Programa de Leishmaniose da Sespa informa que o período de incubação é de dez dias a 24 meses, com média de dois a quatro meses no homem. No cachorro, fica, em média, de três a sete meses. "Lamentavelmente, pela fragilidade do organismo, as crianças e idosos são mais receptíveis à contaminação e à doença", ressalta Mônica Fadul.
O diagnóstico é feito por meio de exames sorológico como a imunofluorescência indireta, realizado no Laboratório Central do Estado. O tratamento, que tem como referência para internação o Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), é realizado com medicamentos (glucantime e Anfotericina B), fornecidos pelo Ministério da Saúde e distribuídos às Secretarias Municipais, por meio da Sespa.
Como medidas preventivas para reduzir o contato homem, Mônica Fadul cita o uso de mosquiteiros com malha fina, a telagem de janelas e portas, o uso de repelentes, o manejo ambiental, por meio da limpeza de quintais, terrenos e praças, bem como a eliminação de fontes de umidade. Além disso, evitar a presença de animais domésticos dentro de casa, manter galinheiros e chiqueiros afastados da casa e destino adequado de resíduos sólidos orgânicos.
A médica veterinária informa que a Sespa, por meio da Coordenação Estadual de Leishmanioses, tem dado suporte técnico com reuniões, capacitações para secretarias municipais em ações de vigilância e controle das leishmanioses, capacitações para médicos em diagnóstico e tratamento, assim como com a ajuda na execução de algumas atividades como controle químico e investigação entomológica.
DADOS DA SESPA SOBRE LEISHMANIOSE VISCERAL
ANO NUMERO DE CASOS MORTES
2010 283 9
2011 354 15
2012 186 1
FONTE: Sespa
Fonte: Cofen.com
Imagem: Matarnaoresolve.blogspot.com