Teste rápido contra a dengue
04/04/2013
"Teste rápido contra a dengue
Autor(es): » ARIADNE SAKKIS
Correio Braziliense - 04/04/2013
Hospitais e unidades de pronto atendimento do Distrito Federal já oferecem um exame de sangue que detecta a presença do vírus da doença logo após a contaminação. Resultado, que antes levava uma semana, sai em apenas 15 minutos
Os hospitais públicos e as unidades de pronto atendimento (UPAs) do Distrito Federal têm uma nova ferramenta para diagnosticar a dengue. Até um mês atrás, as suspeitas só se confirmavam sete dias após a coleta de sangue para sorologia. Agora, com o método mais avançado, os resultados saem em até 15 minutos. Os reagentes detectam com maior rapidez a proteína NS1, própria do vírus, e os anticorpos IGM e IGG, liberados pelo organismo para combater a doença.
A vantagem do teste é que ele pode ser feito em qualquer fase da manifestação da enfermidade no paciente. O método antigo, por sorologia, só capta o anticorpo a partir do sétimo dia da infestação. Mas durante esse período, a maioria das pessoas consegue se recuperar, por isso poucas voltam ao hospital para confirmar o diagnóstico. "Na primeira consulta, se o profissional suspeitar de dengue, já pode usar o teste. O resultado rápido dirige melhor a atuação do médico", explica Dalcy de Albuquerque, chefe do Núcleo de Controle de Endemias da Secretaria de Saúde do DF.
Com isso, a tendência é que o número de casos confirmados da doença aumente significativamente. O efeito se vê nos últimos números divulgados. Até 26 de março, entre as 3.384 notificações de suspeitas, 1.296 acabaram confirmadas. O aumento em relação ao mesmo período de 2012 é de 351,6%, uma vez que, no ano passado, os laudos positivos somaram 287. "A contaminação pode ser confirmada e descartada na hora. Por isso, veremos números mais altos. Não quer dizer que a dengue aumentou, mas que temos uma máquina mais ajustada de supervisão e assistência", afirma Dalcy.
O mecanismo ainda não estava disponível no início de março, quando a febre alta, o suor e uma dor de cabeça insuportável derrubaram o vendedor José Márcio da Rocha Lima, 35 anos. Corredor e maratonista, ele sai para treinar pelo menos três vezes por semana no quarteirão onde mora, na QNP 10, em Ceilândia Sul. Uma semana após procurar o hospital, recebeu a notícia de que tinha dengue. "Só posso ter sido picado pelo mosquito durante o treino", acredita. Ele precisou de cinco dias a fim de sentir-se bem e disposto para voltar ao exercício e ao trabalho, na Asa Norte. Na casa dele, no Conjunto Z, os cuidados para evitar a proliferação e depósito de larvas do inseto estão em dia. "Tenho uma filha pequena e somos cuidadosos com a limpeza da casa. Depois que eu tive, o cuidado passou a ser redobrado. Mas todo mundo tem que fazer a sua parte. Senão, não adianta nada."
A cuidadora Margarida Gaspar Bezerra, 54 anos, foi a primeira de quatro moradores do Conjunto U da QNP 10, em Ceilândia Sul, a contrair a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti entre fevereiro e março. A cidade mais populosa do Distrito Federal concentra a maior parte dos casos de dengue confirmados até o momento: soma 69 das 435 infecções autóctones, ou seja, transmitidas dentro dos limites da capital federal, segundo o relatório divulgado em 21 de março. Margarida é criteriosa nos cuidados preventivos à dengue. A água não fica parada, o lote está sempre limpo, o lixo é ensacado. Mas algum vizinho provavelmente não teve o mesmo cuidado. A rua, então, entrou para o boletim epidemiológico da dengue. "É a pior doença do mundo. Foram uns 15 dias para me recuperar, indo direto ao hospital", conta Margarida.
Agente procura foco do mosquito Aedes aegypti em Ceilândia
Vizinhança
Foi justamente Ceilândia a porta de entrada dos episódios de dengue importados de outros estados. Por isso, a região registrou os primeiros episódios de contaminação autóctone. O sul do DF está mais vulnerável à transmissão por fazer divisa com Santo Antônio do Descoberto e Águas Lindas, cidades goianas que passam por epidemias da doença. "O mosquito não conhece barreiras. Se uma pessoa vem infectada de outra cidade, pode dar início a um surto num local onde ainda não havia registros", explica o coordenador do Núcleo de Vigilância Ambiental de Ceilândia, Alaor José de Carvalho. Agentes da capital têm colaborado com os municípios vizinhos, com aplicação de inseticida para matar o mosquito adulto e doação de 1,8 mil telas para tampar reservatórios.
Kênia Cristina de Oliveira, gerente de Vigilância Ambiental de Vetores e Animais Peçonhentos e Ações de Campo (Gevac), da Secretaria de Saúde, afirma que, apesar de os números das 12 primeiras semanas do ano representarem um aumento de 75% em relação ao total de episódios confirmados no mesmo período do ano passado, a capital brasileira conta com larga folga até a configuração de uma epidemia. Para caracterizar tal situação, seria preciso que o DF tivesse 300 contaminações a cada 100 mil habitantes. Somando as infecções autóctones e importadas, os 957 casos certificados até a terceira semana de março correspondem a uma razão de 36 casos a cada 100 mil moradores.
Colaborou Thaís Paranhos
Epidemia
Em 2010, o DF registrou 12,3 mil casos de dengue, ultrapassando a marca de início de epidemia. As formas mais graves provocaram a morte de sete pessoas.
Tipo 4 é ameaça
Desde o início de março, o governo reforçou o alerta à população sobre a importância do rigor na fiscalização dentro de casa, uma vez que entre 80 e 90% dos focos do mosquito são encontrados em residências. O objetivo é impedir, principalmente, a proliferação do vírus tipo 4, de perfil mais agressivo que os três outros já disseminados no DF. De acordo com a Secretaria de Saúde de Goiás, somente em Goiânia foram confirmados 36.045 casos de dengue este ano, sendo que 71% correspondem ao tipo 4. Por enquanto, apenas um caso desse tipo foi identificado, em um morador da Estrutural, que acabou contaminado em outro estado. "É preocupante, pois as pessoas não têm imunidade a esse tipo de vírus, já que ele é novo no DF. Ele é mais perigoso para pessoas que já tiveram dengue uma vez", detalha Kênia de Oliveira, da Gevac."
Fonte: Correio Braziliense
Imagem: Jm1.com.br