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Teste da orelhinha é ignorado

11/01/2013

Teste da orelhinha é ignorado

Maria Rafaela, no colo na mãe, fez o exame em uma clínica particular

Apesar de as legislações distrital e federal estabelecerem a obrigatoriedade do exame em todos os recém-nascidos, a rede pública não consegue cumprir a determinação. O procedimento, segundo a própria Secretaria de Saúde, esbarra na falta de profissionais

» THAÍS PARANHOS

O teste da orelhinha tornou-se obrigatório e gratuito para todos os recém-nascidos nos hospitais do Distrito Federal em 2001, mas até hoje as mães deixam as maternidades públicas sem saber se os filhos têm algum problema de audição. Em toda a rede, o exame denominado Emissões Evocadas Otoacústicas só é realizado em bebês de alto risco, prematuros ou que tenham baixo peso, por exemplo. O descumprimento da regra leva a um diagnóstico tardio da perda auditiva, o que pode atrapalhar o desenvolvimento das crianças, de acordo com especialistas. Uma lei federal de 2010 também obriga as unidades de saúde a oferecerem o procedimento em todo o país (veja O que diz a lei).

Com apenas 49 fonoaudiólogos em toda a rede, atualmente, os hospitais regionais da Asa Norte (Hran), de Taguatinga (HRT), de Ceilândia (HRC), de Sobradinho (HRS), de Planaltina (HRP), do Gama (HRG), o Materno Infantil de Brasília (Hmib) e o de Base do Distrito Federal (HBDF) fazem a triagem nos bebês de alto risco. Se o médico pedir o teste da orelhinha para os recém-nascidos que não se encaixam nesse quadro e encaminhá-los a uma unidade de saúde, não existe a garantia de que o exame será feito. Apesar de as leis distritais e federais preverem a gratuidade do procedimento nos hospitais e maternidades, muitos pais buscam clínicas particulares para o atendimento ou deixam de fazer o teste.

Se os médicos tivessem alertado os pais de Ludmila Dias do Nascimento, 11 anos, sobre a importância do teste da orelhinha, eles não teriam descoberto tardiamente o problema de audição da menina. À época, ano em que a lei entrou em vigor, Ludmila não passou pelo procedimento, apesar de ter nascido em um hospital particular. A menina tem perda auditiva bilateral de moderada a severa, mas o comerciário Roberto José do Nascimento, 43 anos, morador de Ceilândia, só desconfiou quando a filha tinha quase 2 anos. "Um primo da mesma idade começou a falar e ela, não. Na escola, uma professora fez uma atividade com os alunos na qual balançava um sino, mas ela não percebeu o som. Procuramos especialistas, que detectaram o problema", contou.

Acompanhamento

Desde então, Ludmila usa aparelho auditivo e faz um acompanhamento gratuito com fonoaudiólogo duas vezes por semana no Centro Educacional de Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (Ceal). Devido ao diagnóstico tardio, a menina ainda tem dificuldade para falar e entender algumas palavras e está atrasada um ano na escola. "Hoje, ela leva uma vida normal. Interage com os amigos na rua, vai à escola. Mas, se tivesse feito o teste da orelhinha, começaria o tratamento mais cedo e não teria atraso no desenvolvimento e na fala", lamentou Roberto. "Todos os pais devem ser informados sobre a importância desse exame", completou.

A pequena Maria Rafaela Lacerda Rocha, 2 meses, passou pelo exame na última quarta-feira. A menina nasceu no Hospital das Forças Armadas (HFA) e os pais - o militar Adriano da Silva Rocha e a dona de casa Maria Lali Lacerda Rocha, ambos de 38 anos - foram orientados no local sobre a importância do teste. "Ficamos sabendo na maternidade. Até então, ninguém nunca havia informado do exame, nem de que é obrigatório por lei e gratuito", disse o pai. Preocupado com a saúde da menina, que nasceu prematura e com baixo peso, o casal procurou um consultório particular para fazer o procedimento, que custa entre R$ 80 e R$ 150. "Não queríamos deixar isso para depois, é um exame muito importante", completou.

Para saber mais

Diagnóstico precoce

O teste da orelhinha é importante para detectar se o recém-nascido tem algum problema de audição. Deve ser feito na unidade de saúde antes de o bebê e a mãe receberem alta médica ou até 30 dias após o parto. No procedimento, o fonoaudiólogo usa um equipamento digital, que gera estímulos sonoros e mostra como o ouvido reage a eles. Se o órgão não responder aos sons, a criança deve ser submetida a outros procedimentos para verificar se o problema é temporário ou permanente.

Caso a deficiência auditiva se confirme, a criança precisa de um tratamento especializado que inclui o uso de aparelho auditivo, terapia fonoaudiológica e implante coclear. O exame é rápido, indolor, não tem contra-indicação e pode ser feito quando o bebê estiver dormindo ou mamando. O resultado sai na hora. Estima-se que, a cada 10 mil crianças nascidas, 20 têm problema de audição no país. Uma internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal por mais de 48 horas, casos na família e algumas doenças como rubéola aumentam o risco de a criança apresentar algum problema de audição.

O que diz a lei

A Lei Distrital nº 2.794, de outubro de 2001, obriga os hospitais-maternidade das redes de saúde pública e privada do DF a fazer, gratuitamente, em todas as crianças nascidas nessas unidades o exame denominado Emissões Evocadas Otoacústicas, conhecido como teste da orelhinha. O procedimento, de acordo com a determinação, deve ser feito antes da alta médica e, caso a unidade de saúde não possa fazer o exame, ficará responsável por encaminhar o recém-nascido a outro hospital. Se houver falhas, o bebê deve ser submetido a um novo teste em até 30 dias. Segundo o artigo 3º da lei distrital, caso o problema auditivo seja confirmado, a criança deve ser encaminhada para a realização de exames complementares. Já o artigo 4º garante a assistência terapêutica e o fornecimento gratuito de próteses prescritas às crianças portadoras de perda auditiva diagnosticada nas unidades de saúde pública do DF. Quando receber alta médica, os pais do bebê deverão receber, com o protocolo para vacinação, um cartão com o diagnóstico do teste da orelhinha e a necessidade da realização de um novo procedimento. A Lei Federal nº 12.303, de agosto de 2010, também estabelece a obrigatoriedade do exame gratuiro, em todos os hospitais e maternidades.

Fonte: Cofen.com

Imagem: Cofen.com