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Sob ameaça da cólera
30/09/2012
Sob ameaça da cólera
Depois de matar 7.440 pessoas e contaminar mais de 580 mil, a doença preocupa a ONU, que teme novos casos no próximo mês. Vacinação atingiu somente 1,5% da população. Miséria e falta de saneamento contribuem para a epidemia
Renato Alves
Enviado especial
Porto Príncipe - Dois anos e meio depois do terremoto que matou 250 mil pessoas e levou o sistema de saúde ao colapso, o Haiti enfrenta uma nova tragédia. A cólera já tirou a vida de 7.440 pessoas. Outras 580 mil contraíram a doença, de acordo com o Ministério da Saúde Pública do Haiti. No entanto, o Conselho de Segurança da ONU admite que o cenário é ainda pior, pois boa parte dos casos não teria sido registrada. As Nações Unidas alertam para a proliferação da epidemia no período chuvoso, que se estende até o fim do próximo mês.
O surto de cólera no Haiti teve início em outubro de 2010. Em janeiro de 2012, o país caribenho pediu a ajuda internacional para combater a doença. Desde então, ela perdeu um pouco da velocidade na contaminação. Mas, de janeiro a 1º de agosto de 2012, o Ministério da Saúde local ainda registrou 35 mil novos doentes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que nos 12 meses do ano, o Haiti terá 112 mil casos de cólera, apesar de as autoridades admitirem a estabilização da doença.
Em uma das tentativas de conter a epidemia, a ONU tem distribuído produtos químicos para o tratamento da água consumida, desde o início de 2012. Outra medida, a vacinação, atingiu apenas 150 mil pessoas, cerca de 1,5% da população. Depois de perder o pouco de infraestrutura que tinha no terremoto de 12 de janeiro de 2010, sem dinheiro para se recuperar e com a ajuda internacional à míngua, o Haiti oferece um cenário ideal para a proliferação da cólera e de outras doenças. Pelo menos 390 mil haitianos se abrigam em 575 acampamentos, sem as mínimas condições de higiene. Milhões vivem nas favelas cada vez mais populosas, onde também inexistem água tratada e coleta de esgoto.
Desempregado, como 70% dos compatriotas, Almica Jameson, 28 anos, mora com a mulher e os dois filhos pequenos em Village de La Paix. Apesar do nome vistoso, a área é considerada uma das mais miseráveis da capital Porto Príncipe. Os milhares de barracos são cercados por valas onde corre esgoto a céu aberto. Almica, os filhos e os sobrinhos já ouviram falar da ameaça da cólera, mas não fazem ideia do que se trata, como se contrai a bactéria nem como se previne a doença. "Escuto o que falam no rádio, mas não sei direito o que é essa doença", comentou o pai das crianças. "Um vizinho está com febre e diarreia, falaram que é ela (a doença)", completou.
Desabrigados
As estatísticas do total de desabrigados no Haiti fazem parte do mais recente relatório semestral do Conselho de Segurança da ONU sobre a sua missão de paz no país, concluído em 31 de agosto. O documento destaca uma "redução de 73%" em comparação ao primeiro balanço oficial pós-terremoto, realizado em junho de 2010, quando a ONU anotou 1,5 milhão de desabrigados vivendo em 1.555 acampamentos. "Se mantivermos o ritmo atual, estarão vivendo nos abrigos mais de 230 mil pessoas, até o fim de 2012", estima a ONU. A maioria dos desabrigados que permaneciam em acampamento recebeu dinheiro do governo haitiano e das prefeituras para desalojar as praças públicas e os terrenos privados.
No mesmo relatório, a ONU desenha um futuro sombrio para os haitianos que vivem sob barracas de lona. "As condições de vida nos acampamentos estão se deteriorando na medida em que se vão retirando gradualmente os agentes humanitários, devido, entre outras razões, à falta de fundos." Mais de 1,1 milhão de crianças haitianas de 3,2 mil escolas dependem da comida do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas.
O repórter e o fotógrafo viajaram a convite do Ministério da Defesa brasileiro Experiência em imunização
A organização não governamental Partners in Health realizou a maior campanha de vacinação contra a doença no mundo. No projeto-piloto, a imunização - ministrada em duas doses por via oral, com intervalo de três semanas entre elas - oferece uma proteção ao indivíduo, reduzindo a probabilidade de contrair novamente a doença em um período de até três anos. 64%
Parcela dos 9,8 milhões de haitianos que vivem abaixo da linha de pobreza - 70% da população não têm emprego.
Fonte: Cofen.com
Imagem: Cofen.com