Rejeição à camisinha feminina
28/05/2013
"Rejeição à camisinha feminina
Correio Braziliense - 28/05/2013
Estudo recente da Secretaria da Mulher do Distrito Federal (SEMDF), com apoio da Secretaria de Políticas para Mulheres e do Ministério da Saúde, mostra que, na capital do país, a aceitação da camisinha feminina ainda é tímida. Especialistas acreditam que o preconceito é um dos fatores que desestimula as mulheres a usarem o contraceptivo durante as relações sexuais. No levantamento feito com 200 entrevistadas, 78% sequer experimentaram o preservativo. Entre o restante (22%) que utilizou o contraceptivo, o índice de rejeição chega a 53%. Embora reconheçam que o sistema é seguro contra a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis (DST), 61% das mulheres consultadas consideram-no desconfortável durante a relação com o parceiro.
A universitária Indira Barros, 22 anos, foi apresentada à camisinha feminina aos 18 anos, durante uma feira de orientação sexual no colégio em que estudava. Movida pela curiosidade, ela experimentou com o parceiro. Ele aceitou a novidade. Embora acredite que a tentativa valeu à pena, o resultado, para ela, não foi bom. "Desde o ato de colocá-la até o momento de tirá-la foi desconfortável. Além disso, fiquei na insegurança de não ter colocado direito, por ter sido a primeira vez a usá-la. Por isso, não aproveitei o momento", contou ela. A universitária lembra de ter sentido um incômodo. "Não usaria novamente", afirmou.
A experiência vivida por Lorena Oliveira, 23 anos, foi parecida com a de Indira. No primeiro momento, ela diz ter ficado intimidada com o tamanho da camisinha feminina. "Quando vi o tamanho dela na hora, me assustei. Acho a masculina mais fácil de colocar. A todo momento, achava que o preservativo que eu havia colocado ia sair. E meu parceiro ficou com medo, achando que daria algo errado." A jovem disse que na época, há quatro anos, não tinha muita informação sobre o produto. Ao contrário de Indira, Lorena não descarta a possibilidade de dar uma segunda chance ao método contraceptivo feminino. "Acho que agora eu tentaria usar novamente."
Proteção
Um grupo de 60% das entrevistadas disse que ao utilizar o insumo teve a sensação de proteção contra DST. Vinte e cinco por cento gostaram da experiência pela autonomia em relação ao parceiro. Entre as que confirmaram ter mantido relação sexual com o preservativo, 63% recomendaram o uso do contraceptivo para outras pessoas.
A ginecologista Lindinalva Di Giovani reconhece que o índice de mulheres que experimentam a camisinha feminina ainda é baixo. "Há uma espécie de rejeição. Falam que, se os parceiros usam, elas não precisam. Outros motivos são a falta de divulgação do método e preconceito", destacou a médica. Segundo ela, o preservativo tem entre 79% e 95% de eficácia contra gravidez indesejada e DSTs, se bem introduzido. "Se a mulher tiver uma única relação, ele protege em quase 100%. Isso até mesmo em caso do parceiro estar infectado com o vírus da Aids. Agora, tendo mais relações, a eficácia cai para 95%", afirmou a ginecologista.
Ela defende o uso da camisinha feminina e garante que ela não é desconfortável como afirmaram Indira e Lorena. A médica explica como se dá o uso do contraceptivo: "O ideal é colocá-lo na hora do ato sexual, mas ele pode ser aplicado até oito horas antes até para evitar constrangimento para a mulher."
Para a secretária da Mulher, Olgamir Amâncio, a mulher ganha o direito de escolher como se dará a relação com o parceiro. "Estamos conquistando melhores condições para exercitarmos nossa sexualidade", reforçou. Com o estudo, a pasta pretende criar políticas públicas voltadas para a questão da sexualidade feminina.
Três perguntas para
Helena Bernal, gerente de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do DF
Por que o uso da camisinha feminina não é frequente entre as mulheres do DF e o que será feito para aumentar a adesão ao preservativo?
Os profissionais de saúde não estão muito sensibilizados para estimular o uso. Isso não é só aqui, mas no Brasil e no mundo. As mulheres precisam sentir mais confiança no método, como uma ferramenta adicional. Além disso, falta conhecimento sobre a camisinha feminina. Estamos fazendo um acordo entre as secretarias de Saúde e da Mulher para capacitar e sensibilizar os profissionais de saúde. Com isso, vamos estimular a adesão do preservativo entre as mulheres"
Por que muitas mulheres afirmam que o preservativo feminino incomoda?
O que incomoda é o anel interno, mas ele pode ser retirado assim que a camisinha for inserida adequamente. Ao retirá-lo, não há desconforto. Vale lembrar que muitas mulheres relatam durante as capacitações que o anel externo aumenta o estímulo ao clitóris, ou seja, aumenta o prazer.
A rede pública de saúde oferece preservativos femininos gratuitos para a população?
Existe esse insumo nos centros de saúde e de tratamento. Também é distribuído em organizações não governamentais para que haja maior disseminação. Mas, infelizmente, a demanda ainda é baixa."
Fonte: Correio Braziliense
Imagem: Zerohora.rbsdirect.com