Reconstrução da mama será imediata
28/03/2013
"Reconstrução da mama será imediata
Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press
Maria do Socorro Nazareth é uma das 85 mulheres do DF que estão na fila do SUS para reconstruir a mama
O Sistema Único de Saúde será obrigado a oferecer às pacientes com câncer de mama a possibilidade de reconstruir essa parte do corpo no momento da mastectomia, que é a cirurgia de retirada do seio doente. Caso não seja possível fazer as duas intervenções cirúrgicas simultaneamente, o SUS deverá agendar uma data para que a reconstrução da mama seja feita. A nova regra passa a valer a partir do momento em que a presidente Dilma sancionar o projeto aprovado pelo Senado Federal, na noite de terça-feira. O texto já havia sido aprovado na Câmara. Atualmente, a rede pública já é obrigada a fazer o procedimento de reconstituição mamária, mas as pacientes são obrigadas a esperar por um longo período té que o SUS marque a data da cirurgia.
No Distrito Federal, por exemplo, 85 mulheres aguardam ser chamadas para reconstruir a mama retirada por causa do câncer. Segundo a chefe da Unidade de Cirurgia Plástica, Nadja Alexim, a espera dura, em média, três meses e, em alguns casos, são necessários mais de três procedimentos para finalizar a reconstrução. "Mas, o sistema de saúde local já está trabalhando para fazer as duas cirurgias (mastectomia e reconstituição) imediatamente", ressalvou a médica.
Aos 42 anos, a auxiliar de escritório Maria do Socorro Nazareth foi diagnosticada com câncer de mama. Ela iniciou o tratamento na rede pública de saúde do DF e, após 11 sessões de quimioterapia, foi obrigada a se submeter à mastectomia radical, isto é, a retirada por inteiro de uma das mamas. Depois, submeteu-se a 28 sessões de radioterapia. Como a doença estava em estágio avançado, Maria não pôde aproveitar a mesma cirurgia para fazer a reconstrução imediata do seio, mas também não teve orientação sobre quando iria se submeter à reconstrução. "Só em 2011 fiz a primeira parte da reconstituição, mas tive um problema, então, estou novamente na lista à espera do procedimento. Não fui orientada sobre quando nem onde poderia fazer a cirurgia, se não, teria procurado antes".
Na opinião de Maria do Socorro, a possibilidade de ter um novo seio é fundamental para as pacientes com câncer, porque elas ficam muito abaladas psicologicamente. "Já é difícil receber o diagnóstico do câncer, perder uma parte do corpo que nos identifica, então, só piora a situação. Desde 2009 não tenho a mama e, até hoje, o meu lado psicológico está comprometido".
Essa necessidade foi o que levou Joana Jeker a criar a Organização não Governamental (ONG) Recomeçar (veja depoimento).
Impacto psicológico
Para a atual secretaria do governo do Amazonas, Rebecca Garcia, que, em 2008, propôs o projeto aprovado agora, a lei fará diferença na vida de muitas pacientes. "A retirada da mama tem impacto muito grande na vida de uma mulher. Muitas entram em depressão porque acham que não têm condições de enfrentar a sociedade."
Há casos em que não é recomendado à paciente que sejam feitos procedimentos de retirada e reconstrução da mama ao mesmo tempo. Se o câncer estiver em estágio avançado ou a mulher precisar de radioterapia, deve-se fazer as cirurgias em momentos distintos. Quando há indicação de reconstrução imediata, entretanto, a cirurgia é segura e, principalmente, recomendada pelos médicos. "Evita que sejam feitas duas intervenções cirúrgicas e que a paciente fique com cicatrizes e retrações, além de facilitar a reintegração social. Esse último fator ajuda também no sucesso do tratamento, porque a mulher fica mais feliz", disse a presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica no Distrito Federal, Kátia Tôrres Batista.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, José Luiz Pedrini, avalia que a reconstrução no mesmo ato operatório de retirada da mama é segura e bem-vinda. "É um grande avanço. Espero que essa lei seja cumprida tanto pelo SUS quanto pelos convênios, para respeitar o direito das mulheres. E que elas não se contentem com aquele jargão de tratar primeiro o câncer, porque tem uma pessoa atrás daquele câncer que vai se beneficiar ainda mais com a reconstrução".
Números
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que o câncer de mama é o segundo tipo mais comum da doença entre as mulheres. Se diagnosticado e tratado oportunamente, as chances de cura são altas. Confira alguns os números da doença no país: 52,6 mil novos casos em 2012 12,8 mil mortes em 2010
Depoimento
Drama que virou bandeira
"Descobri que estava com câncer de mama em 2007. Na ocasião, morava na Austrália e larguei tudo lá para voltar ao Brasil e cuidar da minha saúde. Fui para o Rio de Janeiro me tratar pelo SUS, porque Brasília não tinha hospital de referência em câncer. Fiz quimioterapia, fiquei sem cabelo e perdi por inteiro a mama esquerda. O tratamento em hospital público me fez ter vontade de ajudar o próximo.
A reconstrução mamária tardia é feita pelo menos em duas etapas e cada uma delas custa, em média, R$ 15 mil. Em 2009, fiz a reconstituição no DF em duas etapas e, naquele mesmo ano, o médico que fazia a cirurgia no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) parou de fazer a reconstrução por falta de estrutura. Resolvi, então, fazer um abaixo assinado pedindo o aumento das mastectomias no DF e levei ao Ministério da Saúde e à Secretaria de Saúde do DF. Nada foi feito. Em 2010, reuni um grupo de mulheres que precisavam fazer a reconstrução e fizemos uma manifestação em frente ao Hran. Isso chamou a atenção e, finalmente, uma atitude foi tomada. Em 2011, o GDF fez o primeiro mutirão de cirurgia de reconstrução de mama. No mesmo ano, criei a ONG Recomeçar, para prestar assistência às pacientes de câncer de mama, para a qual estou cem por cento à disposição. Sei da importância da reconstrução."
Fonte e Imagem: Cofen.com