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Profis forma menos da metade da turma

25/02/2013

"Profis forma menos da metade da turma

Projeto da Unicamp que inspirou o governo de SP a criar programa de cotas nas universidades estaduais mostra altas taxas de reprovação e evasão

O Profis, sistema de inclusão por mérito para alunos de escolas públicas criado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acaba de formar sua primeira turma. Dos 120 inscritos, que em março de 2011 iniciaram o curso, 53 foram diplomados na sexta-feira passada e puderam escolher uma das vagas reservadas na graduação de uma das melhores universidades do País sem prestar vestibular.

O baixo porcentual de concluintes do curso (44%), que surgiu como mecanismo de inclusão social, chama a atenção, no entanto, para dois problemas que ainda precisam ser atacados: o total de vagas reservadas na graduação é baixo (um dos fatores que motiva a alta evasão) e a taxa de reprovação é alta.

O Profis serviu de embrião para o colégio comunitário, reação à Lei de Cotas do governo federal lançada pelo governador paulista Geraldo Alckmin, em dezembro, como opção ao vestibular e principal porta de entrada para as universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp) a alunos de escolas públicas. Com o nome de Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp), o Estado espera atingir até 2016 a ambiciosa meta de 50% - ou 4.520 alunos - de egressos das escolas públicas.

O programa de inclusão por mérito da Unicamp foi criado em 2010. É um curso em que são selecionados os estudantes do ensino médio de escolas públicas de Campinas que tiveram as melhores notas do Enem.

Por dois anos eles têm aulas de disciplinas de humanas, biológicas, exatas e tecnológicas, em período integral. Conforme seus rendimentos em disciplinas obrigatórias, podem escolher, sem vestibular, uma cadeira na graduação da Unicamp. Os melhores colocados escolhem primeiro as vagas disponíveis.

Para cada turma de 120 alunos, são reservadas 120 cadeiras. Em 2013, subiu para 129 o número de inscritos. Um levantamento feito em julho do ano passado com a primeira turma de formandos do Profis buscou traçar algumas características dessa primeira experiência: 63% se disseram insatisfeitos com as vagas disponíveis na graduação.

"Como nem todas vagas estão disponíveis nos cursos desejados pelos alunos, muitos acabam desestimulados a prosseguir no Profis quando percebem que não ingressarão no curso que sonharam", ressalta o relatório, elaborado pelo primeiro coordenador do programa, o professor Francisco Magalhães Gomes. Segundo o estudo, "será preciso em um futuro breve promover um aumento de vagas nos cursos de graduação".

A principal defasagem em relação à demanda está na área de ciências biológicas e da saúde. Enquanto a Unicamp oferecia 20 vagas, no final de 2011 havia um total de 39 alunos interessados nessas cadeiras. Enquanto isso, na área de ciências exatas e tecnológicas, havia 73 vagas reservadas e uma demanda de 25 interessados.

"É preciso destacar que nosso curso de Medicina, que é o que tem maior número de candidatos por vaga no vestibular - são 127 -, começou reservando 2 vagas para o Profis e agora ofereceu 5", afirma o pró-reitor de Graduação da Unicamp, Marcelo Knobel.

Atualmente, dos 67 cursos da Unicamp, 61 reservam 1 ou 2 cadeiras para alunos oriundos do programa. Não aceitam alunos do Profis os cursos de Ciências Sociais, Economia e alguns cursos de Artes, que aplicam provas de habilidades.

Erica Rodrigues Soares, de 18 anos, foi uma das inscritas no Profis, na turma de 2012. Após cursar o programa durante o ano passado, decidiu prestar o vestibular da Unicamp e foi aprovada em Geografia. "Como a vaga não é 100% garantida e eu não era uma das alunas tops da minha turma e tinha também pelo menos mais um ano pela frente, decidi prestar o vestibular."

Evasão. Segundo a pesquisa feita com a primeira turma do Profis, dos 120 primeiros alunos inscritos em 2011, 22 tinham deixado o curso no início de 2012. Sendo que 6 entraram em outro curso da Unicamp, 3 cancelaram a matrícula a pedido e 13 tiveram baixo aproveitamento.

"Os alunos desligados por baixo rendimento não tiveram baixo rendimento escolar antes de entrar na Unicamp e tampouco tiraram notas baixas no Enem. Aparentemente, esses alunos se desinteressaram do Profis, talvez porque seriam pequenas as chances de ingressarem no curso de graduação que almejavam ou não se adaptaram ao ritmo de estudo exigido", ressalta o relatório da pesquisa.

O estudante Renan Sartori, de 18 anos, foi o primeiro colocado da turma de 2011. Sua opção nunca foi dúvida: queria se formar em Engenharia Mecânica, curso que reservou apenas uma vaga. Ele conta que sua formação em humanas no ensino médio foi deficitária, o que lhe causou dificuldades no Profis. "Sofri, tendo que ler um monte de textos. Mesmo assim foi prazeroso, porque gostava de participar das discussões em sala de aula e sempre houve espaço para isso."

É exatamente esse abismo que existe entre o aluno que sai da escola pública e o aluno que sai da escola particular, na hora de entrar na universidade, que o programa busca acabar. Entre 2008 e 2011, a média de inscritos na Unicamp provenientes do ensino médio público foi de 31%, contra 79% do privado - enquanto o porcentual de formados pela escola pública no Estado em 2008 e 2009 foi de 81%, contra 19% pela escola particular.

O programa recebeu o prêmio da Fundação Péter Murányi de melhor experiência em educação do ano no Brasil."

Fonte: Estadao.com

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