Overdose preocupa
07/04/2013
"Overdose preocupa
BRENO FORTES/CB/D.A PRESS
O destino trágico de Chorão chamou a atenção das autoridades para o assunto
RENATA MARIZ brasil.df@dabr.com.br
A morte de Chorão, líder da banda Charlie Brown Jr., por ingestão de grande quantidade de cocaína - quase cinco vezes maior do que já seria configurado como overdose -, trouxe à tona um problema grave de saúde pública no Brasil. O número de mortes por autointoxicação cresceu 65% em uma década, passando de 916 em 2000 para 1.516 em 2010 (veja o quadro). As autoridades não têm números consolidados sobre as substâncias mais usadas pelas quase 25 mil pessoas que morreram no período.
Entram na estatística diferentes situações, desde a overdose clássica, como a que vitimou o roqueiro, até as vidas perdidas por doenças crônicas em decorrência do uso de entorpecentes ou por crises de abstinência.
Os dados, levantados a pedido do Correio pelo Ministério da Saúde, revelam apenas uma parte pequena do problema. Isso porque nem todas as mortes por esse tipo de intoxicação são notificadas. Além de o tema ser sensível, as autópsias nem sempre conseguem conectar a causa da morte ao uso de alguma substância tóxica. "Na verdade, é bastante incomum que se tire essa conclusão. Na maioria das vezes, a pessoa não morre na hora. Ela é socorrida, vai para um hospital. Durante esse tempo, o corpo metaboliza parte da substância", diz Malthus Galvão, professor de medicina legal da Universidade de Brasília (UnB).
Ele considera a cocaína uma das substâncias mais perigosas porque a distância entre a dose recreativa e a que configura overdose, cerca de 1 micrograma por mililitro de sangue, é pequena em relação a outras substâncias - no caso de Chorão, a concentração de cocaína no sangue era quase cinco vezes maior. "O indivíduo desenvolve tolerância, que leva à necessidade de consumir mais para ter o mesmo efeito. E não percebe que está chegando ao ponto letal. Fenômeno incomum com outras substâncias que causam, quando usadas excessivamente, uma sensação popularmente conhecida como empapuçamento, ou seja, o indivíduo não consegue consumir mais na mesma ocasião", explica Galvão.
O aumento no número de mortes por overdose está em sintonia com as estatísticas de usuários de drogas no país. A literatura nacional aponta que 12% da população brasileira tem algum nível de dependência em álcool. No caso da cocaína, 4,6 milhões de brasileiros já a experimentaram ao menos uma vez na vida - metade fez uso da droga no último ano -, o que representa 2% da população adulta. Os dependentes somam 1 milhão de pessoas. E pouco mais de 3 milhões fumam maconha frequentemente. Só entre os adolescentes, são 470 mil usuários recorrentes."
Fonte e Imagem: Cofen.com