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Os cabelos grisalhos estão por um fio

21/05/2013

"Os cabelos grisalhos estão por um fio

Após desvendar o que provoca o surgimento de pelos brancos, cientistas conseguem reverter o processo. Além de ter potencial uso estético, o estudo deve beneficiar pacientes com vitiligo

Bruna Sensêve

No futuro, disfarçar os cabelos brancos não será um problema resolvido nos salões de beleza, mas no consultório médico. Um estudo recente abre caminho para tratamentos que esconderão um dos sinais mais clássicos do envelhecimento de dentro para fora, dispensando o uso de pigmentos químicos. Após anos de pesquisa, cientistas europeus decifraram a raiz do mecanismo molecular que causa o esbranquiçar dos fios e desenvolveram uma forma de revertê-lo. Além dos benefícios estéticos, o estudo, publicado on-line pela revista científica The Faseb Journal, promete ajudar também pessoas com vitiligo, doença que causa a despigmentação da pele e, em muitos casos, dos pelos do corpo a reversão dos fios brancos foi comprovada em 10 pacientes com a enfermidade.

Para chegar ao resultado, a equipe de estudiosos liderada por Karin Schallreuter, do Departamento de Ciências Biomédicas e Dermatologia Clínica e Experimental da Universidade de Bradford, no Reino Unido partiu de uma pesquisa realizada em 2009, quando foi possível confirmar uma antiga suspeita: a de que o envelhecimento capilar está ligado ao estresse oxidativo do organismo.

O estresse oxidativo se relaciona com a teoria do envelhecimento por meio dos radicais livres, moléculas altamente reativas que provocam a oxidação celular, um processo natural que ocorre desde o nascimento e é balanceado com a ação dos antioxidantes. Quando o organismo é jovem, existe um equilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs, um tipo de radical livre), e a desintoxicação do organismo, por meio de sistemas biológicos que as removem ou reparam os danos causados por elas. Ao envelhecer, a produção desses radicais livres tende a superar a capacidade protetora do corpo, levando ao estresse oxidativo.

Em humanos, esse desequilíbrio está ligado a uma série de problemas, alguns graves, como os males de Parkinson e de Alzheimer. E, segundo os pesquisadores europeus, ele leva também à mudança na cor dos fios. Nesse caso, devido a um estresse oxidativo massivo e pontual, por meio do acúmulo de peróxido de hidrogênio na raiz mais profunda dos fios, o folículo piloso. Esse dano faz com que o fio que cresce naquele local sofra uma alteração em sua pigmentação e cresça cada vez mais grisalho, até tornar-se branco.

O primeiro grande feito da equipe de Schallreuter foi entender o que provoca esse acúmulo de peróxido de hidrogênio (H2O2) na raiz dos fios. Após examinar em laboratório culturas de células de folículos capilares humanos, o grupo descobriu que ele se deve à redução de uma enzima chamada catalase, capaz de quebrar o H2O2. Além disso, o dano causado pelo excesso do composto não é reparado por causa dos baixos níveis de enzimas denominadas MSR A e B. Essas duas condições afetam a formação da tirosinase, outra enzima que conduz à produção de melanina nos folículos pilosos. A melanina é o pigmento natural do organismo responsável pela cor do cabelo, cor da pele e cor dos olhos.

Resultados animadores

Depois de decifrarem a combinação de mudanças que leva aos fios brancos, os cientistas partiram para uma forma de reverter o processo, ou seja, fazer com que o corpo volte a produzir fios escuros. No estudo divulgado há poucos dias, foram feitos testes em 10 pacientes com vitiligo nessa doença, não só a pele mas também cabelos, sobrancelhas, cílios, barba e pelos do corpo podem sofrer despigmentação.

Os participantes receberam um tratamento especial mente desenvolvido pelos pesquisadores e descrito como um composto tópico ativado com raios UVB, chamado pseudocatalase modificada (PC-Kus). O método mostrou-se eficaz para reduzir o acúmulo maciço de peróxido de hidrogênio. Como consequência, o aspecto da pele de pacientes teve melhoras e pelos do corpo que estavam despigmentados voltaram à cor original.

O resultado é considerado muito animador pelo pesquisador da Universidade de Nova York e editor-chefe no Faseb Journal, Gerald Weissmann. Por gerações, inúmeros remédios foram desenvolvidos para esconder os cabelos grisalhos, mas pela primeira vez um tratamento de verdade, que chega à raiz do problema, foi desenvolvido , afirma em um comunicado à imprensa. Essa notícia é empolgante, mas ainda mais animador é que ela também funciona para vitiligo. Essa condição, embora tecnicamente cosmética, pode ter sérios efeitos sociais e emocionais nas pessoas. Desenvolver um tratamento efetivo para essa condição pode melhorar radicalmente a vida de muitas pessoas , completa.

Os cientistas responsáveis pelo estudo lembram que outras pesquisas serão necessárias, tanto para aprimorar a técnica quanto para torná-la realmente eficaz. A líder da investigação, no entanto, não esconde seu entusiasmo, especialmente a respeito do impacto que pode haver na vida de pacientes com vitiligo. Não há dúvidas de que a perda localizada e repentina da cor hereditária da pele e dos cabelos pode afetar as pessoas de muitas formas. A melhoria da qualidade de vida após a repigmentação total ou mesmo parcial está muito bem documentada , diz Schallreuter, em um comunicado. (A pesquisa) abre novas janelas para a prevenção e possível reversão desse processo.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Denise Steiner, a ideia de usar a pseudocatalase não é exatamente uma novidade. Essa hipótese já foi aventada numa certa ocasião, há algum tempo atrás, e houve trabalhos realizados por grupos alemães. Inclusive, havia a tentativa de produzir uma medicação, mas depois, não sei qual foi o impedimento, o trabalho parou , recorda. Para ela, a proposta ainda precisa de maiores comprovações científicas, mas é baseada em uma hipótese que faz bastante sentido. Acreditamos que, com o passar do tempo, você aumenta a oxidação das células do organismo e tem a degradação de várias condições, sendo que uma delas facilmente pode estar relacionada à pigmentação , diz.

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"Por gerações, inúmeros remédios foram desenvolvidos para esconder os cabelos grisalhos, mas, pela primeira vez, um tratamento de verdade, que chega à raiz do problema, foi desenvolvido. Essa notícia é empolgante, mas ainda mais animador é que ela também funciona para vitiligo

Gerald Weissmann, editor-chefe da publicação científica The Faseb Journal

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Ameaçado de extinção?

Caso a ciência consiga mesmo reverter o processo de embranquecimento dos cabelos, pessoas grisalhas se tornarão coisa do passado? Essa é uma pergunta difícil de responder, pois, muitas vezes, os fios brancos não são de todo indesejados. Dependendo da profissão, eles podem conferir maior credibilidade ou até mesmo servir de parâmetro para julgar se um político trabalhou com o empenho esperado pelos eleitores.

Tanto é assim que já se tornaram clássicas as fotos comparativas de presidentes no início e no fim de mandato, como as que mostram o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva ao tomar posse, em 2003, e ao passar o cargo para Dilma Rousseff, em 2011; e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no início e no fim do primeiro mandato (fotos acima).

Os cabelos brancos já foram tão relacionados à experiência e ao trabalho árduo que se tornou difícil saber se a mudança de cor observada na cabeça de pessoas públicas é mesmo real. Muitos podem tingir as madeixas durante a campanha, para passar um aspecto jovial, de quem tem energia suficiente para enfrentar os desafios que terá pela frente, e, depois, deixar os fios grisalhos virem à tona, para demonstrar o quanto tem se dedicado ao ofício.

Além disso, muitos astros do cinema, geralmente homens, beneficiam-se do charme do símbolo máximo do amadurecimento. É difícil imaginar atores hollywoodianos como Richard Gere e George Clooney sem a cabeleira grisalha. Certamente, muitas fãs se oporiam a um processo que os deixasse com os cabelos escuros."

Fonte e Imagem: Cofen.com