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Nas favelas, uma década de conquistas

16/06/2013

"Nas favelas, uma década de conquistas

Dados do IBGE revelam que renda de moradores cresceu 109% entre 2000 e 2010
Além dos bons ventos da economia, grandes eventos impulsionam empreendimentos

O bairro da Gávea e a Rocinha, vistos do alto, são os dois lados de uma cidade que, agora, assiste a uma transformação na economia das favelas Custódio Coimbra / Agência O Globo

RIO - Há 18 anos, Rosana Batista teve um estalo: decidiu ampliar a casa onde mora no alto do Morro da Providência, no Centro, pertinho de onde há atualmente uma das estações do teleférico, e criar um bar. De lá para cá, o negócio de Rosana, que nasceu e se criou na comunidade, vai de vento em popa. Até alvará ela conseguiu para o Sabor das Louras e Gelada do Moreno, em 2010. Com subsolo e três andares — incluindo o terraço —, o prédio se destaca na favela. Hoje, ela vende de 30 a 40 refeições por dia. De noite e nos fins de semana, são a cerveja e os petiscos que fazem sucesso. Especialmente o salgadinho com massa de abóbora e recheio de camarão, que acabou num livro sobre gastronomia lançado em abril. Por mês, Rosana consegue faturar de R$ 3 mil a R$ 4 mil.

A empresária não sabe, mas faz parte de um movimento que está levando mais dinheiro para as favelas cariocas. Uma equação que, em uma década, juntou bons momentos da economia, programas de distribuição de renda, pacificação e investimentos públicos visando a preparar a cidade para os grandes eventos que desembarcam por aqui a partir deste ano. Isso fez com que a renda das favelas cariocas crescesse mais que a das comunidades do restante do país. Os números são do IBGE e mostram que, em dez anos, o valor do rendimento nominal mediano mensal das pessoas que moram em favelas do Rio cresceu 109% entre 2000 e 2010, passando de R$ 244 para 510 (metade ganha acima e metade abaixo desses valores). Um crescimento acima até da inflação do período, que foi de 99%. Já em todo o país, o aumento da renda nos aglomerados subnormais — termo usado pelo IBGE para classificar as favelas — foi de cerca de 85% (de R$ 200 para R$ 370). Essa nova realidade da cidade será mostrada na série Retratos Cariocas, que O GLOBO publica a partir de hoje. As reportagens tiveram como base informações do IBGE e um estudo do Instituto Pereira Passos (IPP), da prefeitura, realizado a partir de dados dos censos de 2000 e 2010.

— O crescimento da renda nas favelas cariocas tem diversas causas. A primeira é histórica: aqui as favelas são mais antigas, mais consolidadas. Não são só um lugar dos mais pobres entre os pobres — explica Luiz Cesar Queiroz Ribeiro, do Observatório de Metrópoles do Ippur/UFRJ.

Ribeiro explica ainda que o momento pelo qual o Rio vem passando levou as favelas da cidade a viverem, nos últimos anos, um estado quase inédito de pleno emprego:

— O país passou por um momento de crescimento econômico, de geração de empregos formais, e os mais pobres no país inteiro foram beneficiados com programas de distribuição de renda. Mas, no Rio, o dinamismo ganhou mais força ainda com as obras de preparação da cidade para os grandes eventos. Isso levou as favelas do Rio a uma situação de pleno emprego. As UPPs, que em 2010 já estavam em algumas favelas, até ajudaram, mas é esse movimento econômico que gerou um efeito mais efetivo no Rio que no resto do país.

Rosana espera que este bom momento seja duradouro:

— Meu sonho é ter um belo de um restaurante. Quero achar um lugar na comunidade. E eu vou conseguir.

Celso Athayde, fundador da Central Única de Favelas e da Favela Participações S/A, uma holding de empreendimentos em comunidades de todo o país, afirma que o crescimento da renda nas favelas cariocas também se explica pelo desenvolvimento da sua economia:

— À medida que a renda cresce, passa a circular na comunidade, o que melhora a economia local como um todo. Isso, com certeza, gera mais oportunidades.

Ribeiro, no entanto, faz uma ressalva. Lembra que mais renda nas favelas não está se traduzindo em melhores condições de vida para seus moradores:

— Com mais dinheiro, as pessoas constroem em áreas mais íngremes ou acabam adensando ainda mais locais já ocupados. E há a questão dos serviços. Os moradores das favelas estão consumindo mais, mas ainda estão vivendo de forma precária.

A cidade tem hoje 763 favelas, segundo o IBGE. São 48,4% a mais que as 514 comunidades contabilizadas em 2000."

Fonte e Imagem: Oglobo.com

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