Na saúde pública, dedos de silicone para fraudar plantão
12/03/2013
Na saúde pública, dedos de silicone para fraudar plantão
Autor(es): Silvia Amorim
O Globo - 12/03/2013
"Médica usava técnica para burlar presença; Ministério abre auditoria
Dedo na botija. Denúncia anônima levou a Guarda Municipal de Ferraz de Vasconcelos (SP) a flagrar médica usando seis dedos de silicone
SÃO PAULO A descoberta de um esquema para fraudar o registro biométrico de presença de funcionários usando dedos de silicone em uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na Região Metropolitana de São Paulo levou o Ministério da Saúde a anunciar ontem a abertura de uma auditoria para investigar o caso. Cinco médicos suspeitos de envolvimento foram afastados das funções pela prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, onde ocorreu a fraude.
O caso foi desbaratado anteontem quando, após uma denúncia anônima, a Guarda Civil Metropolitana prendeu pela manhã a médica recém-formada Thauane Nunes Ferreira. Ela estava com seis dedos de silicone tentando validar no equipamento de leitura de digitais a presença de médicos que não apareceram ao plantão do Samu. Ela foi levada à delegacia, mas não quis prestar esclarecimentos. No início da noite, a médica foi liberada por força de um habeas-corpus. O caso foi divulgado pelo "Fantástico", da TV Globo.
Três das seis digitais foram identificadas pela prefeitura. Trata-se de três médicos, sendo um deles filha do coordenador da unidade do Samu em Ferraz de Vasconcelos, Aline Monteiro Cury. O pai dela, Jorge Cury, é responsável pelo serviço desde 2007 e foi um dos afastados preventivamente do cargo.
O advogado Celestino Gomes Antunes disse que Thauane foi coagida a cometer a fraude, mas não revelou a identidade de quem seria o mandante.
O ministério informou que vai mandar uma equipe de técnicos ao município para investigar o caso. O Samu é um programa federal em parceria com estados e municípios. Um dos objetivos é verificar se houve prejuízo aos cofres federais.
A informação sobre o suposto esquema de fraude chegou à prefeitura há cerca de 15 dias. Uma denúncia anônima apontou o coordenador do Samu como chefe do esquema e relatou que Cury ficaria com parte do dinheiro pago aos funcionários pelo plantão forjado. Segundo a prefeitura, ele está desaparecido desde sexta-feira. O GLOBO também não localizou o ex-chefe do Samu para comentar a denúncia.
É a primeira vez que a prática ilegal - considerada sofisticada uma vez que a biometria é recurso tecnológico moderno - é detectada na rede pública de saúde. Até então, o uso de moldes de silicone para burlar pontos biométricos havia sido registrado somente em departamentos de trânsito, como Detran e filiais.
Em São Paulo, a Corregedoria Geral do governo estadual estima que a fraude movimente cifras milionárias no estado. No mês passado, cerca de 5 mil moldes de digitais foram apreendidos com proprietários de duas autoescolas, que acabaram presos na época. Eles eram usados no processo para tirar a carteira de habilitação, marcando a presença dos alunos em aulas teóricas e até em provas. Essas quadrilhas costumam cobrar entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por cada habilitação fraudada, segundo o presidente da corregedoria, Gustavo Ungaro.
No Rio de Janeiro, em 2011, mais de 20 pessoas foram presas depois de uma operação da Polícia Civil que desarticulou uma quadrilha que também fraudava com digitais de silicone o trâmite de emissão de carteiras de habilitação.
Ungaro explica que, apesar de ser um recurso moderno, a adoção de sistemas biométricos tem sido acompanhada de outras formas de controle.
- Não existem sistemas infalíveis. O que parece necessário é que o sistema biométrico venha acompanhado de outros tipos de monitoramento. Aqui em São Paulo estamos instalando câmeras junto aos equipamentos para dificultar ainda mais fraudes - afirmou Ungaro.
Segundo ele, o sistema de leitura de digitais já é usado em hospitais em São Paulo para o controle de presença dos funcionários. Até hoje, não foram registradas denúncias de irregularidades."
Fonte: Oglobo.com
Imagem: Oglobo.com