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Leite materno contra as superbactérias

03/05/2013

"Leite materno contra as superbactérias

Segundo pesquisadores americanos, o alimento tem um complexo proteico capaz de %u201Ccurar%u201D a resistência a

antibióticos conhecidos, como a eritromicina e a penicilina

Bruna Sensêve

O leite materno fornece uma longa lista de substâncias para o desenvolvimento e a proteção do bebê, de carboidratos e proteínas a anticorpos e leucócitos. Dos numerosos fatores antimicrobianos e imunomodulatórios presentes no primeiro e mais nutritivo alimento dos mamíferos, pesquisadores da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, conseguiram identificar um, o Alfa-lactoalbumina Humano Feito Letal para Células Tumorais (Hamlet), com potente capacidade de reverter a resistência a diversos antibióticos, incluindo a penicilina.

O Hamlet foi originalmente isolado da caseína presente no leite materno em 2012 pelo casal de pesquisadores Anders Hakansson e Hazeline Hakansson, ambos do Departamento de Microbiologia e Imunologia da universidade norte-americana. Em agosto do mesmo ano, os pesquisadores Laura Marks, Anders Hakansson e Emily Clementi identificaram a ampla ação do complexo proteico para a destruição das células tumorais sem afetar as saudáveis. O mesmo trio é o responsável pela descoberta da nova atribuição do Hamlet publicada nesta semana na Plos One.

A ideia de testar o Hamlet com outros antibióticos partiu de Marks ao assistir uma apresentação sobre o uso de coquetéis de drogas para o tratamento da Aids. “O que me deixou pensando depois dessa apresentação foi a ideia de usar combinações de medicamentos para tratar uma doenças em que cada droga possui um mecanismo diferente capaz de potencializar a ação de outro fármaco, exatamente para otimizar a terapia contra organismos que podem se tornar resistentes”, descreve a pesquisadora.

Para testar essas teorias, os cientistas fizeram experimentos em colônias de bactérias conservadas em laboratório (in vitro) e no nariz colonizado de camundongos (in vivo). Nas cobaias, as colonizações de superbactérias foram analisadas e tratadas com uma combinação de antibiótico e Hamlet. Algum tempo depois, eles observaram que mesmo aqueles indivíduos com micro-organismos resistentes ao antibiótico usado foram completamente descolonizados.

O outro experimento foi inspirado em uma situação comum em ambientes hospitalares. Muitos pacientes internados em estado grave necessitam de acessos venosos profundos para medicação, isto é, inserções de cateter na veia com a outra extremidade próxima a órgãos vitais, como o coração. A permanência desses acessos por muitos dias pode levar à formação de um biofilme bacteriano no tubo, uma camada de bactérias que ainda não está em contato com o paciente, mas pode ficar em breve. Os pesquisadores replicaram essa situação em laboratório e, assim como no teste anterior, aplicaram com sucesso uma combinação de antibiótico e Hamlet.

Nos dois testes, o Hamlet foi testado contra a Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). Esse é um tipo de bactéria muito comum dos ambientes hospitalares e com um poder devastador de destruição do organismo do paciente já debilitado. No mercado, existem apenas dois tipos de antibiótico capazes de deter a sua ação. Enquanto os cientistas não criam outro tipo de medicamento eficaz, surgem cepas do micro-organismo resistentes às drogas disponíveis.

Efeito prolongado

Os resultados mostraram que o Hamlet foi capaz de aumentar a sensibilidade das bactérias ao se ligar a elas, fazendo com que uma série de antibióticos já com o efeito comprometido pudessem ser administrados novamente. Entre eles, estão importantes medicamentos, como a penicilina e a eritromicina, que agem em casos de doenças como meningite bacteriana, endocardite, pneumonia e infecções da pele. Quanto a algumas bactérias relacionadas à penicilina, como a Streptococcus pneumoniae e a MRSA, o efeito de recuperação da sensibilidade foi tão promissor que antibióticos que não causavam mais efeito voltaram a funcionar. Os micro-organismos não são capazes de desenvolver a resistência ao Hamlet e morrem em grandes números ainda que expostos a seguidas gerações do complexo proteico.

Para Ana Amélia Fialho Moreira, pediatra de terapia intensiva do Hospital de Base do Distrito Federal e neonatologista do Hospital Santa Luzia, os dados publicados pelo grupo de pesquisadoras representam “um passo inicial importantíssimo”. Mas ela pondera que vai demorar algum tempo até que a descoberta comece a ser usada nos tratamentos clínicos. “As pesquisas mostram cada vez mais que o leite tem funções de proteção. Esse estudo é mais um grande valor agregado ao leite materno e um incentivo para a amamentação”, avalia."

Fonte e Imagem: Cofen.com