Ginecologia na puberdade
03/05/2013
"Ginecologia na puberdade
Geraldo Mendes Presidente do comitê de ginecologia infanto puberal da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) A adolescência envolve muitas transformações biológicas, psicológicas e sociais. O humor vacilante, as dúvidas relacionadas à personalidade e a fragilidade das relações são características comuns dessa fase, período cercado de tabus. As organizações sociais que norteiam a vida do jovem, sejam de cunho religioso, social ou familiar, são suportes fundamentais na orientação do adolescente, inclusive sexual. Se alguns céticos acreditam que a precocidade sexual é uma desvirtuação dos valores morais, do ponto de vista médico a grande questão está em garantir uma adequada orientação para esse público. Ignorar as questões óbvias de afetividade do jovem é, sem dúvida nenhuma, abrir mão de uma importante ação no cotidiano deles. Os pais podem e devem ser coparticipantes nesse processo de descoberta e desenvolvimento do corpo e do mundo.
O Brasil tem 21 milhões de jovens entre 12 e 17 anos, sendo que de cada cem estudantes que entram no ensino fundamental, apenas 40% concluem o ensino médio, segundo levantamento do Fundo da Nações Unidas para Infância (Unicef). A perigosa combinação da ausência de estrutura familiar e estudantil coloca os adolescentes como um dos principais grupos de risco social. Ratificando a afirmativa, o país tem 300 mil crianças de mães adolescentes que, na maioria das vezes, não têm condições financeiras e psicológicas adequadas para assumir tal responsabilidade. Outro dado preocupante está na redução da idade em que essas meninas ficam grávidas. Desde 1980, o número de adolescentes mães, entre os 15 e 19 anos, aumentou 15%, representando 700 mil meninas a cada ano. Desse total, 1,3% são partos realizados de garotas de 10 a 14 anos, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência (Sogia BR). O problema já se tornou questão de saúde pública, uma vez que o parto normal é a principal causa de internação das brasileiras nessa faixa de idade, demandando grande dedicação médica e investimento financeiro. O desconhecimento de métodos contraceptivos ainda é uma das principais causas da gravidez na puberdade. Na era da tecnologia da informação, muitas adolescentes ainda têm vergonha de conversar com pais e médicos sobre suas dúvidas. Como resultado, optam por métodos pouco efetivos, como a tabelinha e o coito interrompido, que não garantem nenhuma proteção.
Ainda que a gravidez provoque mudanças significativas na vida da família, não há dúvidas de que uma doença gera muito mais transtornos. Infecção pelo HPV, Aids, sífilis, gonorreia, hepatite B, clamídia e herpes são algumas das doenças sexualmente transmissíveis mais comuns. Como muitas delas não provocam sintomas, os jovens não sabem que precisam procurar tratamento ainda no estágio inicial. O simples cuidado com consultas regulares ao médico garantiria que uma possível doença não evoluísse para a forma crônica, evitando problemas graves que podem chegar a infertilidade e até câncer. O tema é tão relevante para a sociedade que é destaque na programação do VI Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia, aberto quarta-feira e com programação até amanhã, no Minascentro, em Belo Horizonte. A receita para consultórios médicos mais vazios e conversas familiares mais intensas é simples: conhecimento, liberdade de expressão e prevenção."
Fonte: Cofen.com
Imagem: Acritica.uol.com.br