Fotógrafo faz um mergulho no drama da hanseníase no país
05/05/2013
"Fotógrafo faz um mergulho no drama da hanseníase no país
Paixão. Heiner Pflug mora no Rio há 30 anos e é um apaixonado pela cidade
Livro mostra casos sobre portadores da doença que ainda sofrem preconceito
JACQUELINE COSTA jac@oglobo.com.br
O fotógrafo Heiner Pflug sempre gostou de viajar, seja de bicicleta, de veleiro ou de moto, a sua companheira mais fiel. Nascido na Tanzânia há 74 anos, ele tem passaporte alemão e bem poderia ter também uma carteirinha de carioca, já que mora na cidade há 30 anos e conhece o Rio melhor do que muitos que nasceram por aqui. Não é exagero dizer que Heiner já rodou o mundo inteiro sobre duas rodas.
Numa das suas muitas viagens, saiu sozinho do Alasca em direção ao Rio, há cerca de dois anos. Lançou sete livros de fotografias, registrando paisagens, gente, animais, flores. O oitavo está pronto e é sobre uma viagem sentimental e que acabou se transformando numa bandeira para Heiner: a hanseníase.
"Quebrar barreiras - o estigma da lepra" será lançado, no dia 7, na Sociedade Fluminense de Fotografia, em Niterói, com uma exposição fotográfica .
O livro é resultado de um mergulho de três anos. Ele fez pesquisas, visitas às colônias de outros estados e do Rio - Curupaiti, em Jacarepaguá, e Itaboraí.
Entrevistou portadores e ex-portadores da doença, filhos, enfermeiros, médicos, autoridades.
Ele lembra que tudo começou em 2009, quando vendeu uma casa e decidiu doar móveis, geladeira e outros eletrodomésticos.
Uma amiga sugeriu uma doação para a Colônia de Curupaiti.
A aproximação com a hanseníase - uma das mais antigas doenças, com referências que datam de 600 a.C. - se tornou um projeto de vida. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 33 mil casos novos são detectados a cada ano, sendo 7% em menores de 15 anos.
- No livro, mostro o preconceito com quem tem as marcas da doença e como eram tratados os doentes nas décadas de 20 e 30, quando estava em vigor o Regulamento Sanitário, que pregava o isolamento dos doentes.
Eles eram arrancados do convívio familiar para internação em hospitais-colônias. Ainda existem 33 parcialmente ativas, onde vivem pelo menos dez mil ex-pacientes. A lei da internação compulsória foi revogada em 62, mas o retorno ao convívio social era muito difícil em razão da pobreza e do isolamento a que eram submetidos.
VENDA DE CARRO E MOTO A dedicação ao livro foi tão grande que Heiner vendeu um carro e uma moto para editá-lo.
São 148 páginas, com 160 fotografias coloridas e em preto e branco. Das 30 colônias do país, ele foi a seis. Hospedou-se nas casas dos portadores e ex-portadores da doença.
No livro, ele mostra o drama de um senhor que, aos 12 anos, foi retirado de sala de aula pelo departamento de Controle Sanitário e levado para uma colônia, afastado de seus pais.
Heiner chegou ao Brasil, em 1982, como diretor-presidente de uma multinacional da indústria farmacêutica. Aposentou-se aos 60 anos e não parou mais de viajar e de aproveitar a vida no Rio. Nos finais de semana, ele gosta de botequins pé-sujos tijucanos.
Há 12 anos, mora numa casa espetacular na Joatinga, que já foi fotografada por revistas internacionais e nacionais de arquitetura e decoração.
Projeto de Paulo Jacobsen e Claudio Bernardes, o imóvel já foi pano de fundo para catálogos de moda e comerciais. Le Corbusier, Niemeyer, Sérgio Rodrigues e Marcel Breuer são alguns dos nomes que assinam os poucos, mas personalíssimos, móveis. A garagem funciona como galeria de arte. Lá, estão expostas algumas das imagens que Heiner fez pelo mundo. Há vidros tanto nas fachadas, como na divisão dos ambientes internos.
Até o telhado é de vidro.
- Quando me separei, há 15 anos, queria morar num velho galpão, como os americanos.
Como não encontrei, resolvi construir. A casa tem um estilo de loft, é muito aberta."
Fonte e Imagem: Cofen.com