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Formação e condições de trabalho preocupam técnicos em Enfermagem

11/02/2013

"Formação e condições de trabalho preocupam técnicos em Enfermagem

Técnicos em enfermagem somam 750 mil profissionais no país

Marcelo José dos Santos, do Cofen-SP, aponta déficit de profissionais nas instituições de saúde

Em um ano, 124.342 novos técnicos de enfermagem entraram no mercado de trabalho no Brasil. De 2010 a 2011, o número desses profissionais aumentou 19,8%, quase 17 vezes mais que a taxa média de crescimento anual da população, que é de 1,17%. O rápido crescimento e a falta de fiscalização de cursos técnicos, aliado a condições de trabalho inadequadas desses profissionais em hospitais públicos e particulares, preocupam os representantes da categoria.

Hoje, a profissão é dividida entre enfermeiros, que têm graduação; técnicos de enfermagem, cuja formação exige ensino médio e curso técnico de dois anos; e auxiliares, que completam apenas o primeiro ano do curso técnico.

Técnicos em enfermagem somam 750 mil profissionais no país

Para membros dos conselhos estaduais e federal de enfermagem, a escalada de técnicos, que somam mais de 750 mil de pessoas no país, ocorre de forma desenfreada. Eles apontam a falta de critérios mais rígidos para a criação de novos cursos técnicos como um dos problemas.

Além disso, a fiscalização dessas instituições, cuja responsabilidade é pulverizada entre as Diretorias Regionais de Ensino, também é considerada falha R11; o que não ocorre no curso superior, cuja abertura e fiscalização cabem ao Ministério da Educação.

Em 2010, o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) recebeu 250 denúncias contra profissionais (entre técnicos, auxiliares e enfermeiros). O número subiu para 800 no ano passado, segundo o presidente da entidade, Mauro Antônio Pires Dias da Silva, uma alta de 220%. Como para cada enfermeiro há dois técnicos no país, estes acabam concentrando o maior número de erros de procedimento.

Nos últimos dois anos, pelo menos 11 casos de falhas em hospitais atribuídos a profissionais de enfermagem tiveram repercussão nacional. Silva, que é professor do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diz temer pelo futuro, caso esses problemas não sejam solucionados. "Com remuneração baixa, má preparação e condições de trabalho não adequadas, não errar, para mim, seria um milagre."

Cursos

Para a conselheira Fátima Sampaio, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), o principal problema da formação técnica é o fato de que a autorização para a abertura dos cursos cabe aos conselhos estaduais de educação, que não contam com enfermeiros em seu quadro. "São profissionais com experiência pedagógica, mas não na área de enfermagem", afirmou.

Fátima Sampaio relata que os cursos, muitas vezes, não têm laboratório nem professores com experiência profissional R11; há até docentes que ainda não terminaram o curso de graduação em Enfermagem. O Cofen estima que há mais de 2,8 mil cursos técnicos no Brasil. "Não temos a dimensão de quanto se erra porque, muitas vezes, a falha não chega ao conhecimento de ninguém", disse.

Instituições tradicionais oferecem teoria e prática em seus cursos

Se dezenas de cursos técnicos de Enfermagem abrem e fecham a cada ano, alguns se mantêm em atividade há várias décadas. É o caso da Escola de Enfermagem São Joaquim, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. O curso, que foi fundado há 53 anos, conta com um currículo integrado, que vincula teoria e prática, de acordo com a diretora da instituição, Cleide Maria Ferreira da Silva Zorze.

O curso técnico de Enfermagem deve ter 1,2 mil horas de aula e 600 horas de estágio. A presença de um laboratório, de acordo com Cleide Zorze, é essencial para que o aluno possa treinar os procedimentos antes de colocá-los em prática em pacientes. "O aluno faz a simulação como se estivesse na unidade de saúde e recebe a avaliação dos professores."

O curso da Beneficência, que é gratuito, recebe 40 alunos por turma. A cada seleção, são registradas cerca de 300 inscrições, por isso os candidatos passam por uma seleção que avalia conhecimentos gerais, Português e Matemática.

A humanização do atendimento também aparece nas aulas. "É preciso ter em mente que o paciente não sabe o que será feito. Faz parte da técnica simulada a conversa." Para ela, a enfermagem deve unir uma base científica sólida com a habilidade de lidar com pessoas.

Outras instituições de saúde tradicionais de São Paulo também mantêm cursos de formação de técnicos de Enfermagem, como o Sírio-Libanês, o Albert Einstein e o A.C.Camargo.

Jornada longa nos hospitais é problema, diz Federação

Marcelo José dos Santos, do Cofen-SP, aponta déficit de profissionais nas instituições de saúde

A maioria dos hospitais paulistas não tem número suficiente de profissionais de enfermagem. A informação é do enfermeiro Marcelo José dos Santos, chefe de Fiscalização do Conselho de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). O órgão fiscalizou, de setembro até o início deste ano, quase todos os hospitais do Estado, públicos e particulares.

"O grande ponto foi a questão do dimensionamento: 98% das instituições não têm número suficiente de profissionais, conforme determina a resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen)", disse Santos. Esse cálculo é de atribuição do enfermeiro responsável pela instituição. "Ele é capacitado para dimensionar o número de profissionais necessários para dar o atendimento seguro e com qualidade."

Quando identificado que existem menos profissionais do que determinam as normas e o hospital não faz a adequação, o Coren pode entrar com uma ação civil pública. "Há grandes instituições públicas de saúde que têm um déficit gigantesco de profissionais. Também há instituições privadas que não contemplam esse número", afirmou.

O resultado da defasagem de profissionais, segundo a enfermeira Solange Aparecida Caetanos, presidente da Federação Nacional dos Enfermeiros, é a sobrecarga. "Um profissional que deveria cuidar de cinco leitos acaba cuidando de dez, incluindo de UTI."

Outra questão, diz Solange, são as longas jornadas de trabalho, que, chegando a 44 horas, contribuem para o cansaço extremo e erros de procedimento. "Há muito tempo temos trabalhado em nosso projeto de lei para regulamentar a jornada de trabalho de 30 horas." O projeto está há 13 anos na Câmara dos Deputados."

Fonte: Cofen.com

Imagem: Cofen.com