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Falta de sono ligada ao mal de Alzheimer

19/03/2013

"Falta de sono ligada ao mal de Alzheimer

saramednick.com/Reprodução da Internet

O estudo mostra que é possível manipular o sono para melhorar a memória%u201D Sara Mednick, pesquisadora da Universidade da Califórnia em Riverside

Segundo estudo americano, pessoas com problemas para dormir tendem a acumular no cérebro uma substância relacionada à doença neurodegenerativa. Não se sabe, contudo, se as noites maldormidas provocam ou são causadas pela enfermidade

» Paloma Oliveto

Mais de uma década antes de a doença de Alzheimer começar a se manifestar, surgem sintomas que, para a maioria das pessoas, não têm qualquer relação com a demência: os distúrbios do sono. Alguns estudos realizados com ratos mostram que, no início da degeneração gradativa dos neurônios, embora as funções de cognição não sejam afetadas, o ciclo de vigília e repouso já está alterado. Agora, uma pesquisa com humanos comprovou que problemas para dormir, de fato, estão associados ao Alzheimer. Não se sabe ainda, porém, se essa é uma das causas ou consequência da doença.

O estudo, realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, contou com a participação de 145 pessoas entre 45 e 75 anos, sem deficits cognitivos no momento em que aderiram à pesquisa. Antes de os testes começarem, os pesquisadores retiraram amostras do líquido cefalorraquidiano, um fluido que circula entre o cérebro e a medula espinhal, em cuja amostra é possível detectar substâncias do metabolismo cerebral. No caso, os cientistas estavam atrás da proteína beta-amiloide, que existe em quantidades anormais nas pessoas que sofrem de Alzheimer. Em indivíduos saudáveis, ela é eliminada naturalmente, mas, por motivos ainda não completamente esclarecidos, a substância pode começar a se agrupar, formando placas de gordura, o que destrói os neurônios.

Os participantes do estudo mantiveram, por duas semanas, um diário, no qual anotaram informações como a hora em que foram dormir, a quantidade de sonecas tiradas ao longo do dia, se acordaram durante à noite ou tiveram dificuldades para adormecer, entre outros detalhes. Além disso, eles dormiram com sensores no pulso, que permitiam aos pesquisadores monitorar a movimentação durante a noite e, consquentemente, a qualidade do sono. Quando os voluntários se mexiam muito, era sinal de que, ou dormiam de forma intranquila ou estavam acordados, pois a maioria das pessoas não se movimenta durante um sono tranquilo.

A análise do líquido cefalorraquidiano revelou que 32 participantes tinham quantidades de proteína beta-amiloide acima do normal, indicando que se encontravam em um estágio pré-clínico da doença, embora ainda não apresentassem declínio cognitivo. Esse foi, justamente, o grupo de voluntários que dormiam pior. As informações relatadas pelos diários e as medições feitas pelo sensor noturno permitiram aos cientistas calcular o índice de qualidade do sono. De zero a 100, a média dos participantes que possuíam níveis altos de beta-amiloide foi de 80,4; entre os demais, o índice foi de 84. Segundo os pesquisadores, entre aqueles com qualidade do sono menor que 75, o risco de detecção da proteína no líquido cefalorraquidiano foi cinco vezes maior.

"Os distúrbios do sono, como um aumento exagerado de sonecas ao longo do dia e a insônia à noite, são observados em pessoas que já foram diagnosticados com Alzheimer e se encontram no estágio moderado da doença. Esses problemas afetam de 25% a 40% dos pacientes", diz a neurologista Yo-El S. Ju, uma das autoras do estudo. "O que nosso trabalho mostrou é que, mesmo antes que os sintomas tradicionais se instalem, esse problema (má qualidade do sono) já está presente." Acredita-se que alterações fisiológicas relacionadas ao Alzheimer comecem a surgir de 10 a 20 anos antes do declínio cognitivo. "O primeiro sinal pré-clínico é o acúmulo das placas beta-amiloides e, conforme sugere nosso estudo, ele é acompanhado, nessa fase inicial, pela alteração nos ciclos de sono e vigília", afirma.

Mão dupla

David M. Holtzman, chefe do Departamento de Neurologia da Universidade de Washington e principal autor do estudo, afirma que não se sabe ainda se a má qualidade do sono leva ao acúmulo das placas e, consequentemente, à destruição dos neurônios que caracteriza a doença, ou se seria o contrário. No ano passado, ele publicou um artigo na revista Science Translational Medicine no qual constatou que tanto a privação do sono aumenta a concentração da proteína beta-amiloide no cérebro, quanto esse acúmulo desregula o sono. O estudo, conduzido em ratos, mostrou que, à medida que as placas começavam a se formar, o intervalo entre sono e vigília era interrompido. Da mesma forma, quando os cientistas forçavam os animais a ficarem acordados por mais tempo, isso resultava em um aumento na concentração da proteína e na formação das placas.

O palpite de Jana R. Cooke, pesquisadora da Universidade da Califórnia em San Diego e especialista em distúrbio do sono, é que, ao começar a se acumular, a proteína beta-amiloide danifique regiões específicas do cérebro, relacionadas ao ciclo cicardiano. "Os trabalhos de (David) Holtzman têm demonstrado que essa associação do sono com o Alzheimer é significativa. Realmente, é importante que se investigue mais se essa é uma relação casual ou se a má qualidade do sono é uma consequência, porque isso poderá ser a base de importantes abordagens terapêuticas. Mas o que a Universidade de Washington em St. Louis tem feito já é um grande avanço", acredita.

Holtzman explica que serão necessários estudos mais amplos, já que o realizado agora contou com pouco mais de 100 pessoas. Porém, ele afirma que o resultado, publicado na revista médica Jama Neurology, poderá ajudar a nortear novas pesquisas em busca de um tratamento para o Alzheimer, doença para a qual não existe cura. A ideia é que, tendo a proteína beta-amiloide no líquido cefalorraquidiano como um marcador pré-clínico da doença, os cientistas testem se o uso de medicamentos indutores do sono é capaz de diminuí-las ao longo do tempo. Em caso positivo, isso poderia, segundo a neurologista Yo-El S. Ju, frear a progressão da doença e até mesmo mudar a forma como ela vem sendo tratada."

Fonte e Imagem: Cofen.com