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Estudo liga refrigerantes a 183 mil mortes por ano

20/03/2013

"Estudo liga refrigerantes a 183 mil mortes por ano

Pesquisadores chegaram ao número depois de correlacionar o consumo de bebidas açucaradas aos óbitos decorrentes do excesso de peso em 114 países

Bruna Sensêve

De acordo com estudo divulgado ontem nas Sessões Científicas de 2013 em Epidemiologia, Prevenção, Nutrição, Atividade Física e Metabolismo, organizadas pela Associação Americana do Coração, em Nova Orleans, nos Estados Unidos, o alto consumo de bebidas açucaradas pode estar associado a mais de 180 mil mortes por ano em todo o mundo. Os óbitos seriam resultado de problemas surgidos a partir do uso exagerado desses produtos, como doenças cardiovasculares (44 mil mortes associadas), diabetes (133 mil) e até alguns tipos de câncer (6 mil mortes). Entre os líquidos citados na pesquisa, estão principalmente os refrigerantes, as bebidas energéticas e as esportivas, que contribuem para o excesso de peso e o consequente desenvolvimento desses males.

Para chegar a esses resultados, o grupo liderado por Gitanjali Singh, pesquisador de pós-doutorado da Escola de Saúde Pública de Harvard, em Boston, analisou os dados sobre ingestão de bebidas açucaradas em 114 países (cerca de 80% da população mundial), de acordo com a idade e o sexo dos consumidores, e os correlacionou com a variação dos números de obesidade e mortes por doenças ligadas a esse problema. Os pesquisadores viram uma forte relação entre um maior consumo das bebidas e a ocorrência das mortes. Entre as conclusões, os cientistas mostram que, somente nos Estados Unidos, cerca de um terço dos óbitos por doenças cardíacas, diabetes e câncer relacionados à obesidade pode ser parcialmente atribuído à altíssima ingestão desse tipo de bebida.

Os dados foram coletados como parte do Estudo Global do Ônus das Doenças 2010, uma iniciativa internacional que busca quantificar a distribuição mundial e as causas dos principais fatores de risco, doenças e acidentes. Diferenças entre as regiões do globo foram observadas. A região que compreende a América Latina e o Caribe, por exemplo, encabeçou o número de mortes por diabetes ligadas ao consumo de bebidas açucaradas (38 mil), enquanto a maioria das mortes por doenças cardiovasculares (11 mil) ocorreu nos países do sudeste e do centro da Eurásia. O trabalho também comparou a situação de países com hábitos de consumo opostos. No Japão, que registra o menor consumo per capita desses líquidos, a mortalidade associada ao comportamento é de 10 em cada grupo de um milhão de habitantes. No lado oposto, no México, onde mais se consome os produtos, esse índice é de 318 por milhão.

"Como nós estávamos focados em mortes por doenças crônicas, o estudo se concentrou em adultos. Pesquisas futuras devem avaliar a quantidade de consumo de bebida açucarada em crianças em todo o mundo e como isso afeta a saúde atual e futura", afirmou Singh em comunicado à imprensa.

Rachel Johnson, professora de nutrição da Universidade de Vermont e coautora da pesquisa, ressaltou que as evidências do artigo foram correlacionadas, ou seja, mostram uma associação entre as mudanças no consumo de bebidas açucaradas com o sobrepeso e a morte subsequente por doenças relacionadas à obesidade. "Não prova necessariamente causa e efeito. Mas temos muitas evidências de testes clínicos e experimentos científicos em crianças comprovando uma redução expressiva do ganho de peso e da gordura corporal quando há redução expressiva do consumo dessas bebidas", argumenta. Para ela, um dos problemas do consumo dessas bebidas é que as pessoas não conseguem compensar muito bem as calorias ingeridas como é feito com a comida sólida. "Em outras palavras, quando tomamos essas bebidas, não reduzimos o tanto de comida que ingerimos."

Baixa renda

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Balduíno Tschiedel, não surpreende o fato de o estudo apontar que a grande maioria dessas mortes ocorreu em países em desenvolvimento (78%). "A gente vê em qualquer lugar o consumo flagrante dessas bebidas doces. E as mais baratas estão entrando nos nichos de menor renda. Não sei se é mais prejudicial, mas só tem açúcar", diz Tschiedel. Para o endocrinologista, a renda mais baixa pode ser ligada a uma alimentação pior. "Hoje, você compra, por R$ 1, um refrigerante e um pacote de salgadinhos com mais de 800 calorias. É uma coisa que não sacia, dá mais fome ainda, mas coloca muitas calorias para dentro."

Tschiedel considera que, embora existam polêmicas em relação aos adoçantes artificiais, eles são permitidos ainda e são uma opção melhor que o açúcar. "É uma opção menos ruim. Melhor é tomar água." Ele vê na união entre as instituições, o governo e a mídia uma das saídas para a conscientização da população e uma possível mudança nos hábitos. "É um processo muito lento que tem de começar agora. É preciso dar tempo, um geração inteira, para melhorar. Como um transatlântico que precisa desligar o motor bem antes do iceberg, se não você bate nele", analisa.

Palavra de especialista

É preciso reduzir

"Hoje em dia, a população está consumindo cada vez mais esse tipo de bebida comprada pronta, que tem uma maior taxa de açúcar e pode levar a doenças como o diabetes e a obesidade. Apesar de parecer alto, o número de cerca de 180 mil mortes corresponde a essa realidade. Basta olharmos para as crianças nas escolas. Você vai encontrar um entre 100 que leva um suco feito em casa. A maioria leva refrigerantes, bebidas isotônicas, sucos artificiais. Isso é desde cedo, por isso um número tão alto. Esse consumo precisa ser reduzido aos poucos, assim como a adição de açúcar em chás, café ou suco natural. O ideal é tomar sem açúcar, pois o adoçante não é um substituto saudável." Priscila Cseke, nutricionista em saúde pública do Hospital Santa Luzia

Excessos no Brasil

Em estudo publicado na revista BMC Public Health, um grupo de três pesquisadores liderados por Rubens Feferbaum, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), revela uma realidade preocupante a respeito do consumo de bebidas açucaradas entre as crianças e adolescentes brasileiros. A medida em que envelhecem, eles diminuem o consumo de leite e aumentam consideravelmente o de refrigerantes néctares de frutas e outras bebidas artificiais.

Os pesquisadores avaliaram o comportamento alimentar de 831 indivíduos entre 3 e 17 anos em cinco cidades brasileiras. Foi registrado tudo o que os participantes beberam durante quatro dias. Mais tarde, os dados mostraram que, enquanto o leite representa 52% das calorias ingeridas a partir de líquidos na faixa etária de 3 a 6 anos, esse índice cai para 40% e 27% nas faixas de 7 a 10 e de 11 a 17, respectivamente.

Entretanto, os refrigerantes e outras bebidas açucaradas se tornam cada vez mais presentes. Na faixa de 3 a 6 anos, eles são responsáveis por 37% das calorias advindas de líquidos. Depois passam a representar 45% (7 a 10) e 59% (11 a 17). Na turma mais velha, a média diária de calorias ingeridas com as bebidas açucaradas foi de 207, quase três vezes mais que o recomendado pela Associação Americana do Coração.

Os pesquisadores alertam no estudo que os profissionais de saúde devem estar atentos para o consumo excessivo de bebidas adoçadas com açúcar por crianças e adolescentes. "O movimento em direção a padrões alimentares saudáveis em níveis individuais e da população pode ajudar a melhorar os programas de prevenção de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes", escrevem. (BS)"

Fonte e Imagem: Cofen.com