Especialistas não esperam melhora no aspecto pedagógico
23/04/2013
"Especialistas não esperam melhora no aspecto pedagógico
Para analistas, nada deve mudar na prática das empresas, e opção deve continuar a ser pela 'média'
23 de abril de 2013 | 2h 04
OCIMARA BALMANT - O Estado de S.Paulo
Se, do ponto de vista econômico, a fusão da Universidade Anhanguera com a Kroton faz surgir uma das maiores empresas de educação do mundo, sob o viés pedagógico não se deve esperar muito da junção das duas gigantes: nem para melhor, nem para pior.
"Elas já são tão imensas que, para o aluno, a união talvez seja percebida pela forma com que agora as duas se venderão nos anúncios de tevê, com um discurso de grandeza maior ainda, mas na prática nada deve mudar", acredita o educador Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
Para um outro consultor ouvido pelo Estado, que preferiu não se identificar, a inércia será consequência de um modelo similar de funcionamento: ambas já trabalham com foco no mesmo público - a população das classes C e D, que depende dos programas de financiamento estudantis do governo federal, como o Prouni e o Fies - e têm um projeto de ensino sem pretensão de excelência.
"Quando optaram pelo ensino em massa, já sabiam o que queriam. Ninguém é excelente com esse contingente de alunos, mesmo porque não há tantos bons estudantes. O máximo que conseguem é estar na média. E é isso que querem", diz. "Os dados do Enade (exame do Ministério da Educação que avalia os cursos de graduação) mostram que as melhores instituições são tão pequenas que ninguém nunca ouvir falar delas."
Docentes. Na administração do quadro de funcionários, no entanto, a junção não deve ser tão inócua assim. "O que vemos é que estamos lidando com um conglomerado que parece um banco. Com o diferencial de que os da educação atuam sem pressão, com cliente cativo e segurança de pagamento por conta do ProUni e do Fies", afirma o presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp), Celso Napolitano.
Uma "estabilidade" que os possibilita determinar a regra do mercado, com baixo valor de hora/aula e enxugamento do quadro docente. Só no fim de 2011, após adquirir a Universidade Bandeirantes (Uniban), a Anhanguera demitiu 680 docentes, sendo 380 da Uniban e outros 111 em instituições compradas na região do ABC paulista.
Após as demissões, os alunos protestaram contra o que classificaram de "abandono e precarização do ensino", o que incluía não só os desligamentos, mas também a implementação de atividades online - prática que está de acordo com as diretrizes do MEC, que permite que as instituições de ensino ofereçam até 20% da carga horária de suas graduações em módulos semipresenciais.
"De forma legal, economizaram na matéria-prima e eliminaram os concorrentes", conclui Napolitano."
Fonte: Estadao.com
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