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Doenças tropicais negligenciadas matam 500 mil pessoas em todo o mundo

27/09/2012

Doenças tropicais negligenciadas matam 500 mil pessoas em todo o mundo

Em relatório, organização Médicos sem Fronteiras pede mais investimento para ajudar no diagnóstico e prevenção de doenças

Cerca de 500 mil pessoas, quase todas muito pobres, morrem anualmente de 17 tipos de doenças tropicais negligenciadas pelas autoridades nacionais e internacionais e pela indústria farmacêutica. Para reverter esta situação, a organização humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) lançou, nesta quarta-feira (26), relatório Combatendo a Negligência, em que pede mais apoio de autoridades em todo o mundo. Segundo o documento, é possível reverter o quadro, implementando estratégias inovadoras de diagnóstico e controle de doenças. (veja o relatório na íntegra)

O estudo foi apresentado durante o 18º Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária e teve como foco o combate a três das enfermidades com menos investimentos por parte de doadores internacionais e dos países afetados: doença de Chagas, doença do sono e calazar, enfermidades altamente tratáveis e curáveis e causadas por parasitas Tritryps.

Para a consultora do MSF para doenças negligenciadas, Gemma Ortiz Genovese, que coordenou a produção do relatório, não há desculpas para que os governos não implementem e aumentem os programas e investimentos em pesquisas para essas doenças que têm tratamentos obsoletos e ainda não têm vacinas comercialmente disponíveis.

" Essas três enfermidades são sempre excluídas de financiamento para pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, porque alegam que é muito caro e difícil tratar e que faltam ferramentas" , disse a especialista.

" Nós demonstramos que essas três doenças matam as populações mais pobres e podem ser tratadas. Esperamos, com esse relatório, que a Organização Mundial da Saúde [OMS] reveja sua posição e influencie os doadores a investirem mais em programas nacionais e em pesquisas para combater essas doenças" , completou.

Cenário nacional

A técnica em doenças emergentes da MSF, Lucia Brum, explicou que o governo brasileiro é pioneiro em pesquisa de doenças tropicais. Entretanto, quando o assunto é diagnóstico e tratamento da doença de Chagas, a atuação brasileira ainda é muito tímida.
"Houve uma transição epidemiológica. A infecção dentro das casas está controlada, mas o barbeiro passa a invadir fontes alimentares, como o açaí e a cana-de-açúcar, por exemplo."

" No Brasil só é obrigatória a notificação de casos agudos e o protocolo nacional, do ponto de vista de saúde pública, diz que o tratamento só deve ser oferecido a pessoas com infecção até 12 anos. Achamos que é um direito humano ter acesso ao diagnóstico a esse tratamento, apesar das limitações, efeitos adversos, complicações durante o tratamento que é longo e com efeitos adversos" , disse a médica.

Segundo Lucia Brum, o Brasil enfrenta agora um novo desafio que é a infecção por alimentos. " Houve uma transição epidemiológica. A infecção dentro das casas está controlada, mas o barbeiro passa a invadir fontes alimentares, como o açaí e a cana-de-açúcar, por exemplo. E ainda existe a transmissão congênita e por transfusão de sangue e transplante de órgãos."

Medicamentos

Os medicamentos usados para o tratamento da doença de Chagas foram desenvolvidos nas décadas de 60 e 70. Até o ano passado, o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco era o único fabricante de Benzonidazol, principal medicamento para tratamento da doença de Chagas. Recentemente, a Argentina passou a produzir o medicamento e o Brasil começou a fabricar a versão pediátrica.

Segundo a Médicos sem Fronteiras, os Estados Unidos e a Europa recentemente se opuseram, na OMS, à tentativa de dar às inovações médicas para doenças negligenciadas um novo caráter, que priorize os pacientes nos países pobres.

" Não há interesse por parte da indústria de insumos médicos, pois essa população afetada não tem poder aquisitivo para comprar esses remédios. Cerca de 90% dos investimentos em pesquisa são em cosméticos e apenas 0,1% vão para as doenças negligenciadas que afetam 80% da população mundial. Quando falamos de doenças negligenciadas, falamos de pessoas negligenciadas. Por isso os governos precisam atuar mais para amplificar os programas de prevenção e combate às doenças tropicais" , disse Lucia Brum.

Fonte: Isaude.net/

Imagem: Redefonte.com/