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Doença rara entra no radar das múltis

15/04/2013

"Doença rara entra no radar das múltis

Conforme Jeff Poulton, vice-presidente global da Shire, companhia tem interesse em avançar na América Latina

Acesso a medicamentos no SUS ainda é restrito, de acordo com dados da Interfarma

Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo

Relegados a segundo plano em um passado recente, os laboratórios especializados em doenças raras começam a atrair a atenção das grandes farmacêuticas globais. Parte das tradicionais multinacionais começou a focar em pesquisas para esses tipos de tratamento e outras estão cobiçando ativos voltados para esse negócio para enriquecer seu portfólio.

Os países emergentes viraram alvo dessas farmacêuticas especializadas, que buscam nesses mercados maior acesso a seus medicamentos. Em entrevista ao Valor, o vice-presidente global do laboratório inglês Shire, Jeff Poulton, disse que a companhia quer ter uma presença maior em países como o Brasil e China, que representam um potencial de expansão para esses tipos de tratamento. O país, segundo ele, seguramente é o maior mercado em vendas da América Latina.

Estimativas indicam que há cerca de 7 mil doenças raras no mundo, que afetam entre 6% e 8% da população global, de acordo com levantamento divulgado este ano pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). Desse total, estão incluídos 13 milhões de brasileiros. Oitenta por cento dessas doenças têm origem genética - o restante é oriundo de infecções bacterianas e virais, alergias, ou causas degenerativas. E 75% dessas doenças se manifestam no início da vida e afeta, sobretudo, crianças até cinco anos.

Com faturamento de US$ 4,6 bilhões, a Shire tem sido alvo de cobiça de grandes multinacionais. Sobre esse assunto, Poulton evita fazer comentários. O executivo afirmou que a Shire tem interesse em discutir transferência de tecnologia de seus medicamentos com o governo brasileiro. Mas não há, até o momento, negociação em curso.

No ano passado, a multinacional francesa Sanofi concluiu a compra da Genzyme, especializada em doenças raras. Para a farmacêutica francesa, a aquisição ampliou o portfólio da companhia para medicamentos de alto custo.

As grandes farmacêuticas globais não prestavam muita atenção em medicamentos órfãos (voltados para doenças raras e que abrangem um número menor de pacientes) e não consideravam esse segmento estratégico. "Só que nesse atual cenário de pipeline cada vez mais reduzido, esse segmento começa a atrair o interesse de grandes companhias, uma vez que essas drogas são capazes de gerar receitas robustas", disse uma fonte ao Valor.

Por se tratar de um tratamento caro, as farmacêuticas buscam negociar acordos como os governos.

O Ministério da Saúde tem 26 protocolos clínicos ligados a doenças raras no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde), 18 deles elaborados já na nova Política Nacional de Atenção Integral à Genética Clínica, de acordo com levantamento da Interfarma. Por meio desses protocolos, estão sendo oferecidos 45 medicamentos, tratamentos cirúrgicos e clínicos, realizados 70 mil consultas e mais de 560 procedimentos laboratoriais para tratamento e diagnóstico.

A americana Pfizer tem em seu pipeline cerca de dez medicamentos em pesquisa voltada para doenças raras, segundo Victor Mezei, presidente da companhia no Brasil. "Temos no Brasil três medicamentos que já são comercializados e um deles por meio de PDP [Política de Desenvolvimento Produtivo] com o governo nacional, para doença de gaucher", afirmou.

A Pfizer e a GlaxoSmithKline (GSK) têm investigado tratamentos para a distrofia muscular de duchenne, uma doença hereditária que afeta um em cada 3.600 bebês do sexo masculino. A Shire pesquisa medicamentos para uma desordem metabólica rara, a síndrome de sanfilippo, que atinge um em cada 70.000 recém-nascidos.

Segundo a Interfarma, a maioria das doenças raras que dispõem de medicamentos órfãos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) continua fora dos protocolos clínicos, o que representa uma barreira ao acesso a essas drogas por meio do SUS. De acordo com levantamentos realizados pela Interfarma, 14 doenças encontram-se nessa situação: contam com drogas aprovadas pela agência e comercializadas no país, mas excluídas da agenda do governo federal."

Fonte e Imagem: Cofen.com