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Doença poderá ser eliminada em DNA

26/10/2012

Doença poderá ser eliminada em DNA

Pesquisadores tentam impedir que a mãe passe ao filho diversas doenças, examinando e selecionando os embriões

Pesquisa Cientistas descobrem como substituir fragmentos defeituosos no óvulo humano

Gautam Naik

Cientistas substituíram fragmentos de DNA defeituoso em um óvulo humano pelo DNA equivalente de um óvulo saudável, uma técnica que pode impedir que as mulheres passem aos filhos várias doenças raras e possivelmente mortais.

Em um teste de laboratório, a metade dos óvulos contendo o DNA transplantado foi fertilizada, e muitos deles vieram a produzir embriões humanos saudáveis. Esse estudo mais recente é uma extensão de um experimento de 2009 realizado com macacos pela mesma equipe americana.

A experiência com macacos foi levada mais um passo adiante, levando ao nascimento de filhotes. No estudo mais recente, publicado quarta-feira na revista Nature, os cientistas relatam que esses animais, agora com três anos de idade, estão vivos e passando bem.

Incentivados pelos resultados com macacos e seres humanos, esperamos iniciar os ensaios clínicos em dois ou três anos, disse Shoukhrat Mitalipov, biólogo de desenvolvimento da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon (OHSU, na sigla em inglês), o Estado americano, e um dos autores principais do estudo, realizado principalmente por pesquisadores da OHSU.

O experimento representa um grande passo para o tratamento de diversos males incuráveis conhecidos como doenças mitocondriais. A maior parte do código genético da pessoa reside no núcleo da célula, e é composta por uma contribuição igual do pai e da mãe. No entanto, pequeninas estruturas que flutuam na célula, chamadas mitocôndrias, também contêm alguns genes, que são herdados exclusivamente da mãe.

As mitocôndrias são as usinas da célula, convertendo em energia útil os carboidratos e gorduras consumidos pela pessoa. Os defeitos genéticos perturbam esse processo. É por isso que a doença mitocondrial afeta principalmente os órgãos que utilizam muita energia, tais como coração, cérebro, fígado e rins. As mutações genéticas nas mitocôndrias podem causar doenças em vários órgãos. As crianças podem nascer com problemas graves, como diabetes, surdez, demência e doenças cardíacas.

Acredita-se que essas doenças afetam uma em cada 5 mil a 10 mil crianças nascidas vivas nos Estados Unidos. Mas outras estimativas sugerem que um percentual maior de crianças - uma em cada 200 - pode herdar mutações que causam doenças, embora nem todas essas crianças desenvolvam a doença ao nascer.

Os pesquisadores vêm tentando impedir que a mãe passe ao filho as doenças mitocondriais examinando e selecionando os embriões no processo de fertilização in vitro, mas esse método tem limitações e não se considera que possa ser aplicado de modo amplo.

Uma pessoa pode fazer o teste para doenças mitocondriais se houver ocorrência desses distúrbios na família, ou sintomas leves que apontem para essas doenças. Os testes, porém, são muitas vezes inconclusivos.

O DNA de uma pessoa reside nos cromossomos, estruturas em forma de fios que ficam dentro do núcleo da célula. Os cromossomos são mantidos em uma estrutura conhecida como eixo. No método de Mitalipov, o eixo é retirado do óvulo, deixando para trás as mitocôndrias defeituosas. O eixo é, então, inserido em um óvulo de uma doadora, do qual foi retirado o eixo, mas não as mitocôndrias.

Essa transferência genética é complicada. O eixo não pode ser visto por um microscópio comum; apenas em um especializado. Os cromossomos nessa fase são sensíveis e facilmente danificados.

A equipe de Mitalipov recuperou mais de cem óvulos de sete voluntárias com idade entre 21 e 32 anos. Desses óvulos, 65 foram usados na experiência de transferência do eixo, enquanto 33 serviram para controles não manipulados. Ambos os grupos foram fertilizados por espermatozoides em placas de Petri em laboratório, e a conclusão é que a taxa de fertilização de ambos foi aproximadamente a mesma, mais de 70%.

Depois que um óvulo é fertilizado, a primeira fase é conhecida como zigoto. Cerca de metade dos zigotos formados através do método de transferência de eixo foi fertilizada anormalmente, o que, para surpresa dos pesquisadores, foi consideravelmente menos eficiente do que os resultados em macacos.

Mesmo com uma taxa de sucesso de 50%, acabaremos com uma abundância de embriões capazes de produzir bebês humanos livres de doenças mitocondriais, disse ele.

Pode haver preocupações éticas. Pode-se argumentar, por exemplo, que os bebês nascidos dessa forma tecnicamente têm três pais, pois seu material genético vem de três fontes - a mãe (que fornece sua parte do DNA), o pai (que fornece o espermatozoide) e a doadora (que fornece a mitocôndria saudável).

Muitos cientistas não veem isso como um grande problema, já que a contribuição da doadora representa menos de 1% do genoma de um bebê.

Creio que é uma preocupação falsa, disse o brasileiro Carlos T. Moraes, biólogo celular da Escola de Medicina Miller da Universidade de Miami. Ao contrário dos cromossomos, que contêm milhares de genes e o código para milhares de proteínas, o DNA mitocondrial contém os códigos para 13 proteínas que fazem parte do sistema de produção de energia. Assim, isso não vai mudar a altura nem a cor do cabelo de ninguém, disse ele.

Como que hoje não existem curas para a doença mitocondrial, Moraes e outros dizem que o método de Mitalipov tem boa chance de chegar até a clínica médica. No Reino Unido, isso provavelmente vai acontecer mais rápido do que nos EUA, disse Mitalipov.

O Departamento de Fertilização Humana e Embriologia da Grã-Bretanha já avaliou as evidências científicas para doação mitocondrial e lançou no mês passado uma consulta pública sobre os aspectos éticos dessa técnica. O órgão planeja apresentar suas conclusões ao Ministério da Saúde em março.

Fonte: Cofen.com

Imagem: Cofen.com