Faça uma busca abaixo:
Posso Ajudar?

Desigualdade federal

20/12/2012

Desigualdade federal

Correio Braziliense - 20/12/2012

Ao contrário da maior parte do país, Brasília aumenta o fosso que separa ricos e pobres. Classe média da capital ainda é minoria

VICTOR MARTINS

Preso à baixa escolaridade da população e a um setor produtivo em crise, o Brasil amarga uma das piores distribuições de renda do mundo. Apesar de alguns avanços, como os proporcionados pela estabilidade da economia e pelo Bolsa Família, o país ainda mantém um fosso enorme separando ricos e pobres. O Índice de Gini, que mede essa distância, até recuou entre 2000 e 2010, de 0,611 para 0,575 — quanto mais próximo de 1, pior. Porém, em algumas regiões, o indicador avançou na direção contrária. Foi o caso do Distrito Federal, o retrato mais fiel da concentração de renda brasileira. Em 10 anos, o Índice de Gini do DF piorou 0,6%, subindo para 0,622.

No entender dos especialistas, o DF, ao contrário do Brasil, ainda não tem uma classe média bem definida. A capital possui um grande grupo nas classes A e B — sobretudo, servidores púbicos — e outro também relevante nas D e E. “A concentração de renda é explicada pelo baixa nível de educação. No DF, existe uma parcela de funcionários do governo com alta escolaridade e, ao mesmo tempo, um público pobre, que não frequentou a escola”, observou Simão Silber, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Distrito Federal registra o maior número de pessoas com nível superior: 23,95% da população de 25 anos ou mais têm um diploma de graduação. Em contraponto, 30,15% dos seus cidadãos nessa faixa etária nunca pisaram em uma sala de aula ou fizeram apenas parte do ensino fundamental. Essa situação se repete em algumas unidades da Federação e agrava o quadro de desigualdade no país. Outras regiões também apresentaram piora no Índice de Gini. Em Roraima, o indicador passou de 0,569 para 0,579; no Amazonas, subiu de 0,592 para 0,598.

Fome é constante
Nem mesmo quem viu o rendimento subir em Brasília na última década conseguiu ascender socialmente como em outras partes do país. Desde que chegou à cidade, há 12 anos, em busca de um emprego e melhor condição de vida, a baiana Salete Lopes Santiago, 31 anos, viu o salário de empregada doméstica subir de R$ 300 para R$ 1.250. “Agradeço por essa melhora. Mas ainda não é o suficiente para dar uma condição bem melhor à minha família”, afirmou.

Mãe de dois filhos, de 12 e 9 anos, Salete se espreme em um barraco de tábua com um único cômodo no Varjão, nos arredores de Brasília. O local humilde em uma área irregular, o que a isenta do aluguel, foi a única opção encontrada para conseguir arcar com as outras despesas. “Tem vezes que a gente faz compra e não é suficiente. Falta até comida. Aí tenho que pegar dinheiro emprestado para não deixar os filhos ficarem com fome”, contou.

Com formação limitada somente à 4ª série, ela vê nas dificuldades que passa os reflexos da pouca escolaridade. “Quando vim para Brasília, não esperava conseguir um emprego bom porque nunca tive estudo. Por isso, meus filhos estudam. Eu não quero essa vida para eles e vou fazer tudo o que puder para que completem a escola”, disse, convicta.

Apenas algumas ruas abaixo, Maria de Lourdes Gonçalves, 53, divide o minúsculo barracão com três filhos e quatro netos. No local, falta tudo. As crianças dividem um único beliche do cômodo que serve como quarto, sala e cozinha. “Morar em um lugar como esse é triste, mas a gente não tem onde viver”, lamenta. Com o sonho de sair da miséria, o filho de dona Maria, Adenilson Neves Gonçalves, 25, serve de exemplo para os sobrinhos e não desiste do estudo, apesar dos contratempos. Ele acabou o ensino médio e almeja, agora, uma faculdade de Direito. Enquanto o futuro na carreira jurídica não chega, Adenilson faz bicos como jardineiro e tira, fixos, R$ 450 por mês. “Não posso deixar de estudar. Tenho que continuar para melhorar a vida”, diz.

A fraqueza do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos deve piorar ainda mais a situação desse grupo vulnerável. Na visão de especialistas, os avanços dos anos recentes estavam associados fortemente ao nível de atividade do país, que, em função do crescimento, era obrigado a usar mão de obra sem qualificação para continuar a funcionar. Com ritmo mais fraco, recentemente, a tendência é de os empregos fiquem apenas para o público mais qualificado. Se o país não voltar a crescer a taxas mais fortes, alertam especialistas, os avanços obtidos nos últimos anos na área social podem ser afetados. “A expansão tímida do PIB nos últimos 12 meses é um golpe duro para os formuladores de políticas públicas. Eles haviam criado um modelo econômico unindo alto crescimento com inclusão social. Mas isso, agora, fica prejudicado”, argumentou Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Columbia University, em Nova York.

Fonte: Fazenda.gov

Imagem: Zanarede.blogspot.com