Desafio contra o câncer
24/05/2013
"Desafio contra o câncer
Correio Braziliense - 24/05/2013
Embora a legislação determine o início do tratamento de pacientes com câncer em até 60 dias (veja O que diz a lei), o Distrito Federal ainda enfrenta gargalos para cumprir a determinação em algumas especialidades mais complexas. Cirurgias de cabeça e pescoço, tratamento de tumores de próstata, ósseos malignos ou casos que exigem o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, podem demorar até 90 dias na capital federal (veja quadro). A falta de profissionais especializados, como oncologistas e anestesistas, além de espaço físico para realização dos procedimentos, dificultam um atendimento mais ágil do paciente.
A Lei nº 12.732 de 2012, que estipulou o prazo para o tratamento das pessoas com câncer, foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff e está valendo desde ontem em todas as unidades da Federação. No DF, cerca de 6 mil pacientes são tratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entre os que mais demoram para receber atendimento, estão pessoas com câncer de próstata, em razão da necessidade de realizar diversos exames complementares e da falta de especialistas no tema. No ano passado, apenas 113 pessoas com tumor na próstata tinham iniciado o tratamento.
A complexidade de alguns tipos de câncer faz com que haja menos profissionais capacitados para atender na rede pública. Há ainda um déficit de médicos e de salas para a realização de cirurgias. Segundo o secretário-adjunto da Secretaria de Saúde (SES-DF), Fernando Miziara, o tempo de espera determinado na legislação será ajustado até o próximo mês, com a contratação de mais 20 anestesistas e a ampliação dos espaços de oncologia no Hospital de Base do DF de oito para 16 salas de cirurgia. "Tínhamos alguns problemas estruturais e faltavam equipamentos, além de anestesistas. Em junho, já agilizaremos essa fila de maneira a atender os pacientes em até 60 dias. Os prazos de contratação dos médicos nos impedem de ser mais ágeis", disse.
Gargalo
A coordenadora de Câncer da SES, Cristina Scandiuzzi, diz que o DF está preparado para garantir o pleno cumprimento da lei, apesar de, em alguns casos, o tratamento ainda demorar mais de 90 dias para começar. "De gargalo, nós temos as cirurgias de cabeça e pescoço e as urológicas, relacionadas ao câncer de próstata e tumores ósseos malignos. Temos dificuldade em cumprir a lei nesses casos, mas vamos ampliar a margem de pacientes operados. Em breve, vamos atender 100% os requisitos dessa lei", garantiu.
Em 2007, a professora Kátia Teresinha Lourenço, 51 anos, descobriu que tinha câncer de mama. Entre o diagnóstico e a retirada da mama, foram mais de dois meses de espera. Isso porque não havia anestesista para realizar o procedimento. "Fui internada uma vez, mas tive de voltar para casa porque outros casos de acidentes graves tinham prioridade. Foi uma angústia muito grande", contou. Para Kátia, a lei é positiva. "É muito bem-vinda, porque antes a gente só dependia da boa vontade dos médicos de agilizarem o tratamento, agora é lei", disse.
Outro desafio é em relação à carência de hospitais especializados em câncer no Entorno. Moradores se sentem desamparados até na hora de receber um diagnóstico. A doméstica Fábia Maria da Silva Gomes, 26 anos, teve de sair de Planaltina de Goiás para identificar que o filho Pedro estava com linfoma, câncer que afeta as células do sangue. "O médico dizia que não era nada grave, mas meu filho não melhorava e, então, procurei ajuda no Hmib (Hospital Materno Infantil de Brasília)", explicou. Na unidade, o menino foi diagnosticado e encaminhado para tratamento no Hospital da Criança do DF. Hoje, Pedro receberá alta. "Se não fosse isso, eu não estaria com ele hoje", acredita.
Em 2012, 3.397 pessoas fizeram quimioterapia para tratar cânceres de mama, de colo de reto, de colo de útero e de próstata. Outros 1.754 foram submetidos a radioterapia e 2.285 passaram por hormonioterapia para repor os hormônios perdidos em razão da doença (veja quadro). Apesar de o câncer de mama ser o tipo da doença que mais mata na capital, o tempo médio de espera tem sido de 30 dias. A fila na quimioterapia é de 10 dias e não há espera para fazer radioterapia, segundo a Secretaria de Saúde do DF.
Diagnóstico tardio
Para Luci Ishie, presidente da Associação Brasiliense de Apoio ao Paciente com Câncer (Abac-Luz), o diagnóstico ocorre tardiamente em 60% dos casos, o que dificulta o tratamento da doença. Ela diz que a legislação representa um avanço. "Quanto mais cedo for diagnosticado o câncer, melhor. Haverá mais chances de controle e cura. O tratamento também é menos sofrido e menos oneroso para o Estado", defendeu. Luci ressaltou que é preciso agilizar não apenas o início do tratamento, mas também dos exames capazes de identificar a doença. "Às vezes, a biópsia demora muito tempo para sair e isso precisa melhorar", acrescentou.
Ministério promete punir
Segundo o Ministério da Saúde, os hospitais que não cumprirem a norma dos 60 dias poderão sofrer sanções administrativas, que vão desde advertência até o corte do repasse de verbas, ou mesmo a desabilitação do serviço na instituição. "Se o recurso já não é suficiente, e houver corte, a situação tende a piorar", defende o presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Robson Freitas. O presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Antônio Nardi, prega esforço conjunto. "Se cada um fizer sua parte, poderemos, em um curto espaço de tempo, cumprir a lei em 100% dos estados", sustenta. O procurador Waldir Alves, coordenador do Grupo de Trabalho de Saúde do Ministério Público Federal (MPF), garante que o MPF acompanhará o cumprimento das metas. "Quem exige o prazo para o tratamento deve exigir para o diagnóstico. Do contrário, é só não fazer o diagnóstico que a lei será efetiva. Seria uma forma indireta de burlar a lei", diz. Segundo Alves, em caso de descumprimento, poderão ser responsabilizados os gestores ou a União, se for avaliado que a verba repassada para uma instituição foi insuficiente.
Tratamento na rede pública
Tempo de espera
Zero Radioterapia
10 dias Quimioterapia
10 dias Câncer de colo do útero
30 dias Câncer de mama e a maioria dos tumores
90 dias Cirurgias de cabeça e pescoço, do trato urológico, como o câncer de próstata, e, também, tumores ósseos malignos.
Pacientes em tratamento (dados de 2012)
Quimioterapia: 3.397 (destes, 770 eram pacientes com câncer de mama,
291 com câncer em colo de reto, 176 de colo de útero e 113 de próstata)
Radioterapia: 1.754
Hormonioterapia: 2.285, sendo 1.599 para tratar câncer de mama
Total de atendimentos: 7.436 (uma pessoa pode fazer mais de um tipo de tratamento)
- Aproximadamente 6 mil pessoas estão em tratamento de câncer
pela rede do SUS-DF"
Fonte: Correio Braziliense
Imagem: Handara.com