Demanda por tratamento de infertilidade cresce 30%
26/05/2013
"Demanda por tratamento de infertilidade cresce 30%
26.05.2013
Novas regras do CFM apressam mulheres com mais de 45 anos e que sonham em ser mães a procurar por ajuda
Nas últimas décadas, muitas mulheres dedicaram mais tempo aos estudos, conquistaram o mercado de trabalho e por isso adiaram o sonho de ter um filho. Agora, com as novas regras do Conselho Federal de Medicina (CFM), que limitou em 50 anos a idade máxima para quem precisa se submeter às técnicas de reprodução assistida, a corrida contra o tempo enche as clínicas particulares especializadas da Capital e ambulatórios de fertilização dos hospitais Geral de Fortaleza (HGF), César Cals (HGCC) e Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac).
Após quatro anos, Eronildes aguarda o nascimento de seu primeiro filho Foto: Kiko Silva
De acordo com médico e diretor da clínica Centro de Reprodução Humana, Evangelista Torquato, depois da resolução do CFM, a procura aumentou em torno de 30% na rede privada. Por mês, a clínica realizava, em média, 30 procedimentos. Em menos de um mês, esse número pulou para 39 inseminações in vitro. "A pressão psicológica também cresceu com as novas regras", reconhece o médico.
É o caso da empresária Giselda Maria Cruz. Aos 46 anos e depois que várias tentativas de engravidar naturalmente naufragaram, ela decidiu buscar ajuda. "Estou muito ansiosa. Agora, tenho pouco tempo para realizar meu grande sonho", afirma.
De acordo com os especialistas, mulheres na faixa etária de Giselda precisam superar não só os efeitos do tempo, que diminuem a qualidade e quantidade de óvulos, mas os altos custos do tratamento de fertilização. Em média, cada procedimento custa R$ 20 mil. E nem sempre surte efeito na primeira tentativa.
Foi assim com a advogada, Eronildes Silva Rodrigues, 45. Com quatro meses de gravidez, ela comemora o sucesso de um longo tratamento de quatro anos. "Comecei pela inseminação e depois de três tentativas de fertilização in vitro. O desgate emocional foi grande demais, mas deu certo e agora é só alegria", conta.
Nesse caso específico, ela desembolsou quase R$ 70 mil no total, sendo a maior parte com vacinas para combater uma hipersensibilidade ao esperma. "Durante três meses, a cada 25 dias, tive que recebe as doses e isso mexe com a gente", diz.
Alternativas
Quem não tem recursos financeiros e também enfrenta problemas de infertilidade, a opção é procurar os ambulatórios especializados em três hospitais de Fortaleza: HGF, HGCC e Meac. Porém, eles só realizam a investigação do problema e tratamento de baixa complexidade, como coito programado, indução de ovulação e tratamento de ovários policísticos. São poucas vagas e a demanda é grande.
"Tive sorte em já fazer parte do Programa de Obesidade do César Cals e como meu problema para engravidar não é somente o sobrepeso, o médico me encaminhou para o ambulatório", relata a agente de saúde, Evelinne Chagas, 30.
Os três ambulatórios atendem, em média, 100 pacientes mensalmente. Mesmo pela rede pública, a maior parte precisa arcar com medicamentos que chegam a custar R$ 100. "Os exames conseguimos realizar todos pelo SUS, infelizmente não é assim com o resto, por isso, muitas desistem", lamenta a coordenadora do serviço na Meac, a médica Elfie Figueiredo.
Rede Pública
Apesar de não constar na tabela do SUS, a fertilização in vitro é oferecida gratuitamente em pelo menos oito hospitais no Brasil - situados em São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília - que realizam cerca de dois mil procedimentos por ano. Segundo gestores de programas de fertilização públicos este número é incapaz de atender a demanda, o que aumenta para dois anos o tempo na fila de espera.
A agente de saúde Evelinne Chagas passa por um tratamento no Hospital César Cals e sonha, observando o berçário, com o dia que terá o seu exame de gravidez positivo FOTO: NATINHO RODRIGUES
O que leva muita gente a apelar para a justiça. A funcionária pública Mônica Miranda um é exemplo. Mesmo custeando o tratamento na rede privada, ela ganhou uma ação judicial para receber do plano de saúde as vacinas de imunoglobulina. "A cada três semanas foi preciso tomar cinco ampolas, cada uma valendo R$ 1 mil. Não tive condições para isso", assevera.
Para a médica Jussara Pereira, é preciso que o Ministério da Saúde não só amplie o serviço de alta complexidade em todo País, como também melhore os ambulatórios de infertilidade, oferecendo os medicamentos necessários para cada tipo de tratamento. "A demanda é alta e tende a ficar maior ainda com as regras do CFM. A infertilidade também é caso de saúde pública e assim deve ser tratada", defende.
FIQUE POR DENTRO
Regras visam diminuir riscos à mulher e bebê
De acordo com o CFM, a decisão sobre a idade limite foi tomada por causa dos possíveis riscos à saúde da gestante mais velha, como hipertensão e diabetes, além da ocorrência de nascimentos prematuros e bebês nascidos com baixo peso. Casos de pacientes acima dessa idade, mas com boa condição de saúde, deverão ser avaliados individualmente pelos Conselhos Regionais de Medicina.
A chamada doação compartilhada de óvulos, que não era mencionada na resolução antiga, passa a ser permitida da seguinte maneira: uma mulher que não consegue produzir óvulos ajuda financeiramente outra mulher capaz de ovular, mas com dificuldades de engravidar, a fazer tratamento reprodutivo. Em troca, a primeira recebe a doação de um óvulo. A doadora de óvulos não pode ter mais de 35 anos - para garantir que o óvulo é saudável. Além disso, somente homens com menos de 50 anos poderão doar para bancos de esperma.
A nova resolução aumenta a possibilidade de uso da "barriga de aluguel". No entanto, o CFM não aceita o uso comercial da prática e só permite que ela seja feita quando a mulher que gera o filho tem até o quarto grau de parentesco com o pai ou com a mãe da criança."
Fonte e Imagem: Diariodonordeste.globo.com