Crescimento de casos de aids entre idosos acende o alerta em SC
01/12/2015
Prolongamento da vida sexual é apontando como um dos fatores que influenciam no aumento de casos nesta faixa etária
Karine Wenzel - karine.wenzel@diariocatarinense.com.br
Apesar de ainda serem pouco representativos no número total de casos — em 2014, 9% eram de pessoas acima de 55 anos —, a detecção de aids entre idosos cresce a cada ano. Até outubro de 2015, o grupo acima de 65 anos foi o único que não apresentou queda em relação ao ano anterior. O superintendente de Vigilância em Saúde, Fábio Faria, ressalta que por ter um fluxo mais lento de notificações, ainda é cedo para dizer se de fato houve queda neste ano nas demais faixas etárias.
— Hoje no Estado a população de idosos não é um grande problema, eles não são grandes disseminadores. Eles têm um crescimento vegetativo, já que são um espelho da grande epidemia — defende.
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Mesmo sem serem grupo prioritário das ações, a pesquisadora Betina Meirelles pondera que são necessárias iniciativas voltadas aos idosos:
— As campanhas são dirigidas geralmente aos jovens e isso leva à associação imediata de que a doença não pode atingi-los. Outra questão é que com o prolongamento da expectativa de vida, o idoso tem aproveitado para prolongar a vida sexual.
Olga Regina Zigelli Garcia, pesquisadora do Instituto de Estudos de Gênero da UFSC, cita que os avanços científicos como a reposição hormonal e drogas para disfunção erétil impulsionam o exercício da sexualidade na terceira idade. É o caso do caminhoneiro aposentado, Dejair*, 65 anos, de Florianópolis.
— Para caminhoneiro não falta mulher. E eu não usava camisinha de jeito nenhum, não gostava — lembra.
Aos 50 anos foi diagnosticado com HIV e hoje não dispensa o preservativo para as relações casuais que mantem:
— Não tenho parceira fixa para não precisar contar que sou soropositivo, mas estou na ativa, às vezes com o azulzinho para ajudar — referindo-se ao uso do medicamento para disfunção erétil.
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Porém ainda há inúmeros desafios. Betina reforça que a sexualidade ainda é um tabu, especialmente na terceira idade e por isso os idosos não costumam buscar os testes rápidos. Assim o diagnóstico tardio acontece quando são obrigados a passar por outras avaliações, como pré-cirúrgica ou de rotina. Com o diagnóstico, vem a vergonha e não aceitação.
Helena Edília Pires atende há 30 anos no Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa) em Santa Catarina e presencia o aumento no número de idosos buscando ajuda, inclusive sobre como contar aos filhos e netos sobre a doença.
*O nome original foi alterado a pedido do entrevistado, para preservar a identidade e barrar o preconceito
Fonte: Jornal de Santa Catarina