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Cresce o número de casos de leishmaniose

03/11/2012

Cresce o número de casos de leishmaniose

Aumenta o risco de leishmaniose no DF
Autor(es): » CLARA CAMPOLI
Correio Braziliense - 03/11/2012

O DF teve 50 cães infectados por mês este ano, 32% a mais que em 2011. Entre humanos, foram 20 diagnósticos da doença em oito meses.

A média mensal de ocorrências da doença em cães e em humanos avançou na comparação dos últimos anos. No caso do animal de estimação, um dos principais portadores do mal, a incidência cresceu 32,5% entre 2011 e 2012

A leishmaniose está em alta no Distrito Federal. A Secretaria de Saúde identificou 406 casos da doença em cães até agosto de 2012. A média de 50,75 cachorros infectados por mês supera em 32,5% o número do ano passado. Com 460 animais atingidos pelo mal, a capital do país fechou 2011 com 38,3 ocorrências mensais. Também preocupa o crescimento de ocorrências em humanos. Nos primeiros oito meses do ano, 20 pessoas foram diagnosticadas, contra 19 em igual período de 2011. Em outubro, se confirmaram mais seis. Dessa forma, as notificações subiram, nos últimos três meses, de 34 para 49.

Atualmente, nenhuma vacina para a doença em cães é reconhecida e distribuída pelo Ministério da Saúde, embora seja realizada em clínicas veterinárias particulares. A solução que o Centro de Controle de Zoonoses do DF tem para a situação é o sacrifício dos bichos infectados. Assim, fica a garantia de que o protozoário não será mais transmitido (leia arte).

Depois de três exames para testar a doença, se o resultado for positivo, o cão deverá ser recolhido para a eutanásia. "Primeiro, conversamos com o proprietário, explicamos o risco que o animal oferece", conta Laurício Monteiro, veterinário do Zoonoses. "A gente espera que os centros de pesquisa achem algo que resolva o problema (da doença), porque nós somos os executores", lamenta.

No DF, as áreas endêmicas são Fercal, Sobradinho 1 e 2, Varjão, Lago Norte, Lago Sul e Jardim Botânico. A média nessas regiões é de 10% a 15% dos cães examinados com resultado positivo, segundo a Secretaria de Saúde. A moradora do Lago Norte Rejane Portela, 26 anos, cria quatro labradores. Clara Maria, Olívia Maria, Mandela e Mussum têm 5 anos, época em que o bairro se tornou perigoso para a doença. "Assim que eles nasceram, fizemos o exame. Deu negativo e, ainda filhotes, eles começaram a ser vacinados", diz.

Prevenção

Antes que o problema apareça, a Secretaria de Saúde recomenda alguns procedimentos para evitar a transmissão. Segundo o veterinário Monteiro, o ponto mais importante é a limpeza do ambiente. "É preciso remover toda a matéria orgânica: restos de vegetação, folhas e madeira em decomposição. Também podar as árvores de modo que o sol entre na copa e evite sombras grandes", ensina. Além disso, é necessário colocar tela em janelas e canis, que precisam estar sempre limpos.

Os testes da leishmaniose devem ser feitos anualmente e são gratuitos no Zoonoses. As vacinas contra a doença são indicadas pelo órgão de controle, mas, como o Ministério da Saúde não as reconhece ou as distribui à população, a solução é realizá-las em clínicas particulares, anualmente. As coleiras com deltametrina (repelentes) também precisam ser compradas e têm vida útil de quatro meses. Os gastos de Rejane com os cães são altos: em um ano, ela paga quatro vacinas e compra 12 coleiras. "A gente mora em área rural, então, confiamos na vacina, mas todo cuidado é pouco", relata.

O que diz a lei

Em julho de 2008, foi publicada no Diário Oficial da União uma portaria do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que determina a proibição do tratamento de leishmaniose em cães. Ficou estabelecido que produtos de uso humano não podem ser indicados para controlar a doença em cachorros, porque é considerado que nenhum fármaco ou esquema terapêutico garanta a eficácia do tratamento nos animais. Quem descumprir as determinações da norma poderá ser detido de um mês a um ano, além de pagar multa. Se o veterinário for o infrator, também sofrerá as sanções previstas no Código de Ética Profissional do Médico Veterinário.

Controle
Os exames para o teste da leishmaniose em animais podem ser feitos gratuitamente no Centro de Controle de Zoonoses do DF (Setor de Áreas Isoladas Norte, Lote 4), de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.
São feitos três testes para garantir que o diagnóstico é correto.

Eutanásia em debate

A questão do sacrifício dos cães é amplamente criticada por representantes de sociedades de proteção aos animais e até mesmo por alguns veterinários, que aceitam medicar os animais infectados mesmo com a proibição (leia O que diz a lei). Em países como a França, o procedimento não é tirar a vida dos cachorros, mas tratá-los de maneira que eles possam continuar vivos sem transmitir a doença. "Acredito que o sacrifício não tem fundamentação teórica. A matança não ajuda, é só a coisa mais fácil de fazer, mas não combate a doença. Há 50 anos, se mata cão no Brasil e, há 50 anos, a doença se alastra", condena a diretora-geral da ONG ProAnima, Simone Lima.

Para os defensores da tese de que a eutanásia é desnecessária, o tratamento do animal garante a sobrevida dele e o uso da coleira com deltametrina a 4% elimina a possibilidade de o mosquito chegar perto e transmitir a leishmaniose. "Mesmo que o cão tenha leishmaniose e fique doente, isso não é risco para ninguém. Só o vetor transmite a doença. Se eu matar todos os cães do Lago Norte, o mosquito vai continuar picando ratos, gambás, humanos, morcegos", defende Simone.

Sobre esse tema, o veterinário do Zoonoses Laurício Monteiro afirmou que o tratamento não é reconhecido pelos órgãos da saúde. "O animal infectado, com ou sem sintomas, é um reservatório. Ou seja, ele tem condições de contaminar o vetor, e esse mosquito pode transmitir a doença."

Fonte: Correio Braziliense

Imagem: Aguaclarams.com.br