Conselho aponta irregularidades no trabalho dos enfermeiros do Hospital Regional
01/02/2013
"Conselho aponta irregularidades no trabalho dos enfermeiros do Hospital Regional
A assistência de enfermagem do Hospital Regional em Campo Grande está funcionando com inúmeras irregularidades. A afirmativa tem como base inspeção do Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul), solicitada pelo Sintess (Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social).
Segundo os próprios funcionários, eles estão acumulando uma pesada carga de stress, com as condições precárias de trabalho a que são submetidos, o que pode levá-los a cometer erros profissionais.
A inspeção foi realizada por fiscais do Conselho nos dias 21 e 22 de janeiro. A equipe detectou número inadequado de profissionais - considerando o quantitativo de leitos e procedimentos realizados pela enfermagem, ausência de SAE (Sistematização da Assistência e Enfermagem), e ainda exercício ilegal da profissão, caracterizada por irregularidades em registros trabalhistas como inscrição provisória vencida e profissionais inscritos como auxiliar, trabalhando como técnicos de enfermagem.
No dia 23 de janeiro, a presidente do Conselho, Amarílis Pereira Amaral Scudellari, realizou reunião com a diretoria do Hospital e a gerência de enfermagem para expor as irregularidades e entregar uma notificação jurídica, com prazos para as adequações.
O coordenador de fiscalização do Coren, Valdinei Pereira de Souza, informou que cinco profissionais tiveram afastamento imediato e mais de 150 estão registrados com vínculo irregular.
Esses profissionais devem ser reenquadrados de auxiliar para técnico. A maioria tem qualificação e vai precisar mudar apenas o vínculo. Os auxiliares não podem responder como técnicos, uma vez que é limitado o local onde podem trabalhar. Eles não podem, por exemplo, atuar nas UTIs, oncologia, hemodiálise e outros, como estava sendo feito , explicou.
Valdinei disse ainda que na segunda-feira (4), o Conselho vai entrar em contato com a gerente de enfermagem do Regional, Maria Aparecida Pires Carvalho para saber quais providências já foram tomadas.
A presidente do Coren informou que sua administração vem lutando por uma assistência de enfermagem de qualidade no estado e municípios, mas que encontra muita resistência no cumprimento das leis do exercício profissional, principalmente por parte de gestores de saúde pública.
Servidores denunciam descaso
Enfermeiros que pediram para não se identificar estão inconformados com as condições de trabalho e redução no horário de descanso no plantão, que tem afetado diretamente a qualidade do serviço prestado pela categoria.
Um deles conta que há dias em que não tem nem água para lavar a mão. É muita coisa. Tem dia que a gente está atendendo e acaba a água pra lavar as mãos. Falta luva, falta álcool, Onde deveriam ter no máximo 12 pessoas ficam 20. O apelido que deram para o Pronto Socorro é desova , porque vai chegando gente e eles vão amontoando, não querem nem saber , disse.
Outro fator apontado é o risco de contaminação entre as pessoas. Uma enfermeira que trabalha há mais de 10 anos no Regional conta que a grande quantidade de pacientes com doenças diferentes pode causar infecção cruzada. Não tem como se mexer pra dar banho de leito, fazer uma medicação , afirmou.
Ela relata que dia 22 de janeiro foi um dos mais críticos do ano. Tinha cerca de 100 pacientes que deram entrada na emergência, a gente teve que espalhar o pessoal pelos corredores, consultório, emergência, em cadeira, maca, tomando soro sentado. Parecia aquelas reportagens que a gente vê no Fantástico. Um verdadeiro descaso com as pessoas e com os profissionais , declarou.
Os enfermeiros enfatizam que é comum ter leitos disponíveis que poderiam desafogar o Pronto Socorro, mas que não tem profissionais para tomar conta dos doentes. Quando dá seis pacientes por profissional, mesmo que tenha leito, o acesso trava, não sobe ninguém. O pior é que com tanta gente na fila do concurso eles chama só 1 ou 2 por vez , disse.
Outra reclamação é que eles saem exaustos e estressados dos plantões, por tirarem 12h direto, com apenas uma 1h de descanso, enquanto alguns médicos tiram o plantão todo dormindo.
É muito desgastante. Infelizmente, o lugar que tem mais gente doente é na saúde, com depressão, problema de coluna de suspender paciente sozinho, carregar pra fazer exame. Para completar, parte dos médicos passa o plantão dormindo. A gente é obrigado a mentir, falando que ele (médico) já vai vir, mesmo sabendo que não vai , finalizou.
A reportagem entrou erm contato com a direção do Hospital, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição."
Fonte: Cofen.com
Imagem: Corenms.gov.br