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Como tirar o pirulito da criança
07/08/2012
Como tirar o pirulito da criança
A obesidade infantil está no centro de um debate que coloca, de um lado, a indústria de alimentos e suas guloseimas e, do outro, as organizações de direito do consumidor e sociedades médicas. A causa da discórdia é a publicidade de alimentos para crianças no Brasil, se seria ou não um dos fatores responsáveis pelo crescimento assustador dos índices de obesidade infantil no país. O IBGE mostrou aumento de mais de 200% na incidência de sobrepeso entre crianças de cinco a nove anos nas últimas três décadas. Para especialistas, é uma tendência comparável à epidemia de obesidade nos EUA.
O tema vai ser discutido nesta quinta na Câmara dos Deputados, em um seminário na Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Na pauta, os projetos de lei parados no Congresso sobre regulação de publicidade infantil.
"O Brasil tem que avançar. Já há controle sobre a propaganda de cigarro e de bebidas, evidente que precisa haver controle sobre a publicidade para crianças", diz o deputado Domingos Dutra (PT/MA), que preside a comissão.
Já o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) diz que a legislação do país está entre "as mais exigentes do mundo".
Um projeto que tramita no Senado é o 150/2009, que limita os horários para veicular comerciais de alimentos com alto teor de gordura, sódio e açúcar e de bebidas de baixo valor nutricional.
Esses comerciais poderiam ir ao ar só das 21h às 6h, seguidos de alertas sobre o risco do consumo excessivo dos produtos. Ficaria proibido o uso de personagens infantis na publicidade de alimento.
O Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do Conar já diz que "quando o produto for destinado à criança, sua publicidade deverá abster-se de qualquer estímulo imperativo de compra", especialmente se apresentados por personagens ou autoridades.
CONFLITO DE INTERESSES
O Brasil não tem leis específicas, mas o Código de Defesa do Consumidor proíbe a publicidade que "se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança". Além disso, entidades da indústria e o Conar têm normas de autorregulamentação.
"A autorregulamentação não tem funcionado, exemplos comprovam. Há conflito de interesses no fato de o mercado defender a saúde pública em detrimento do próprio mercado", diz Mariana Ferraz, advogada do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
"Além de serem veiculados no intervalo de programas infantis, muitos comerciais usam os próprios personagens. É como se fosse uma continuação do desenho", critica Patrícia Alvares Dias, assessora técnica do Procon-SP.
Outro problema, para a advogada Isabella Henriques, do Instituto Alana, é a venda de alimentos com brindes colecionáveis. "É um incentivo para a criança comer mais. Nas promoções, ela tem até 60 dias para fazer a coleção."
Sobre isso já há algumas iniciativas locais: em Belo Horizonte e Florianópolis há leis que proíbem a venda de brinquedos junto com alimentos em redes de fast food.
CÁLCULO DE INFLUÊNCIA
Várias pesquisas já tentaram medir até onde vai a influência da publicidade na alimentação das crianças, o que não é nada fácil.
"Há inúmeros fatores que podem interferir, mas há um acúmulo de evidências que mostram a influência direta da publicidade na escolha de produtos pela criança", argumenta Daniel Bandoni, doutor em nutrição em saúde pública e professor da Unifesp.
Se medir o efeito dos anúncios é difícil, concluir que eles vendem alimentos não saudáveis é fácil: 67% deles são de produtos com muito sal, açúcar ou gordura, segundo um levantamento de 2010 coordenado pela Universidade de Liverpool que analisou 12.618 peças publicitárias de 11 países, incluindo o Brasil.
Dependendo da idade, a criança não tem senso crítico em relação ao anúncio, diz a pesquisadora Inês Vitorino, autora de "Televisão, Publicidade e Infância" (AnnaBlume, esgotado).
"Só por volta dos 12 anos ela começa a estabelecer a relação entre causa e consequência e reconhece o discurso comercial."
MUITAS CAUSAS
A obesidade infantil tem muitas causas e os médicos são unânimes ao afirmar que a publicidade de alimentos não é a principal delas.
O primeiro fator é genético: se pai e mãe são obesos, o risco de a criança ser obesa é de 80%, diz a endocrinologista Zuleika Halpern, da Abeso (associação de estudo da obesidade). Se só um dos pais é obeso, o risco cai para 50%, e, se nenhum é, para 10%.
Há ainda o fator ambiental. Inclui comportamento familiar, hábitos e influências externas -como a publicidade.
"A publicidade induz a criança a pedir o produto aos pais, mas há um limite desse poder, isso sempre vai passar pela triagem de um adulto", diz Luis Eduardo Calliari, endocrinologista pediátrico.
"Não vale proibir refrigerante e colocar a garrafa na mesa"
A mediação dos pais na dieta infantil pode ser a solução ou o complicador. "Muitas crianças escolhem o que comer e os pais dão. Tem que dizer não", diz o endocrinologista Luis Eduardo Calliari. Dar o exemplo é básico, afirma: "Não adianta falar para não tomar refrigerante e colocar a garrafa na mesa".
A nutricionista Cláudia Lobo defende a persuasão em vez da proibição. "Se a criança for convencida da importância da alimentação saudável vai até se policiar." Segundo a pediatra Virgínia Weffort, a criança deve ser apresentada ao maior número de alimentos até os três anos, já que dos três aos cinco passará por uma fase em que recusará novidades.
Para Zuleika Halpern, o principal é dar a infraestrutura para a criança comer bem: ter frutas, verduras e legumes sempre disponíveis e cortar biscoito recheado e salgadinho da lista de compras. Se a criança insistir na guloseima, há jeitos de escolher opções saudáveis. "Dá para ler os rótulos e escolher marcas com menos gordura, sódio e açúcar", diz Weffort.
Uma criança que chega à adolescência obesa tem 80% de risco de virar um adulto obeso. Mesmo o sobrepeso já pode ser um alerta para o consumo excessivo de gordura e açúcar -que não só engorda como pode causar diabetes e doenças do coração.
LANCHE DE FAST FOOD
Apesar de ser fonte de proteína, carboidratos e até de fibras, esse sanduíche não tem vitaminas e minerais e é rico em gordura saturada e sódio. O combo (com refrigerante e batatas) soma mais de 600 calorias
Porção ideal: evitar ao máximo
Troque por: sanduíche caseiro com suco
SALGADINHOS
O excesso de sódio é o principal problema (um pacote tem até 15% do consumo recomendado para o dia todo) e mesmo os assados são ricos em gordura: em 25 g de salgadinho de milho, cinco são de gordura (20%)
Porção ideal: 30 g (uma xícara)
Troque por: pipoca de panela, torradas com patê caseiro
MACARRÃO INSTANTÂNEO
Tem alto teor de sódio (um pacote contém mais que a quantia diária recomendada para crianças). A massa, pré-frita, é rica em gorduras saturadas e tem cerca de 400 calorias por pacote. O tempero tem corantes e conservantes
Porção ideal: meio pacote
Troque por: macarrão instantâneo com temperos caseiros ou macarrão comum com molhos caseiros
REFRIGERANTE
Uma lata de refrigerante tem 6 saquinhos de açúcar (36 g) e, em média, 150 calorias. É o que os nutricionistas chamam de "caloria vazia": não tem nada de bom
Porção ideal: evitar ao máximo
Troque por: suco natural, água
CEREAL MATINAL
Muitos cereais têm adição de vitaminas e minerais, o que é bom, mas a maioria contém muito açúcar; de 30 g de cereal, 12 são de açúcar e 13 de amido, outro carboidrato refinado com baixo teor de fibra. Pode ser opção se acrescido de leite
Porção ideal: 30 g (uma xícara)
Troque por: vitamina de frutas com biscoito ou pão com queijo e suco natural de fruta
CHOCOLATE
É a guloseima menos nociva, por ter, além de carboidratos, proteínas e gorduras. Mas um tablete (130 g) tem 270 calorias. Evite o chocolate branco e escolha pelo rótulo a versão com menos gordura saturada e mais cacau
Porção ideal: 30 g (três quadradinhos ou um bombom)
Troque por: barrinha de fruta com chocolate ou doce de fruta feito em casa
BISCOITO RECHEADO
Rico em açúcares e gordura saturada -três biscoitos têm, em média, 10% da ingestão diária recomendada. Cada bolacha pode ter até 50 calorias (um pacote tem 650). Alguns tipos têm alto teor de gordura trans
Porção ideal: 2 biscoitos
Troque por: 4 biscoitos doces sem recheio
ou 2 bisnaguinhas com goiabada
SUCO PRONTO
Apesar de ser fonte de vitaminas e minerais, os sucos de caixinha têm muito açúcar e conservantes. O teor de fruta da bebida pode variar de 10% a 100%, os pais devem ficar atentos aos rótulos
Porção ideal: 200 ml
Troque por: água ou suco natural
ACHOCOLATADO PRONTO
O lado bom é que é fonte de cálcio e ferro, o lado ruim é que tem muito açúcar, corantes, conservantes e sódio (uma porção tem 5% das necessidades diárias recomendadas). A embalagem de 200 ml tem 190 calorias
Porção ideal: 200 ml
Troque por: leite batido com fruta e cacau em pó ou iogurte com frutas picadas
Fonte: Folha de S. Paulo
Edição: F.C.
07.08.2012
Fonte: Humanasaude.com
Imagem: Humanasaude.com