Bolsistas fazem curso pior em Portugal
05/03/2013
"Bolsistas fazem curso pior em Portugal
O Estado de S. Paulo - 05/03/2013
Dos 2.587 bolsistas do programa Ciência Sem Fronteira (CsF) que já estão em Portugal - o segundo principal destino do programa quase 70% foram para universidades consideradas mais fracas que as principais instituições brasileiras ranqueadas pelo SCimago, reconhecido grupo de pesquisa internacional que classifica os melhores locais para se estudar na América Latina, Portugal e Espanha.
A situação - que preocupa os gestores do programa e custa aos cofres públicos R$ 48 milhões por ano - fez com que o governo federal agisse. Na sexta-feira, cerca de 9,7 mil candidatos ao intercâmbio em Portugal foram notificados pelo CsF sobre a possibilidade de trocarem de país (mais informações nesta página).
Para chegar aos números, o Estado cruzou as informações sobre a quantidade de bolsas implementadas até janeiro de 2013 com o atual ranking ibero-americano da SGImago - reconhecido grupo de pesquisa internacional que classificou as melhores universidades da América Latina, Portugal e Espanha. Foram considerados índices de qualidade da produção científica e internacionalização dos pesquisadores.
No cruzamento, observou-se que, das bolsas implementadas nas cerca de 50 instituições portuguesas, apenas 818 universitários e pesquisadores brasileiros foram para instituições lusas como a Universidade do Porto e a Técnica de Lisboa, consideradas tão boas quantos as sete melhores universidade públicas do Brasil - USP, Unicamp, Unesp e as federais de São Paulo (Unifesp), Riode Janeiro (UFRJ), Rio Grande do Sul (UFRGS) e Minas Gerais (UFMG) -, todas ranqueadas no top 20 da SGImago. Na lista das 250 melhores, o Brasil ocupa 82 postos e Portugal, 21.
Uma das principais plataformas políticas do governo, o GsF atingiu desde 2011 apenas 22% da meta de enviar 101 mil bolsistas "às melhores universidades do mundo" até 2015. "O programa está mais preocupado em mostrar números. As universidades de Portugal não estão à altura das nossas, a não ser em algumas especialidades", diz o economista Cláudio Moura e Gastro, especialista em educação.
Cursos piores. Com base no prestigioso ranking QS World University, quando se compara o curso de Engenharia Civil da UFRJ com o da Universidade de Coimbra - que recebe a maior : quantidade de brasileiros a instituição do Brasil se sai melhor.
No próprio site da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), umas das administradora do programa, nenhuma universidade portuguesa é sequer listada como referência na seleção de melhores instituições europeias, muito menos na relação das mais destacadas em Engenharia e Tecnologia, área prioritária para o programa.
Um dos motivos da grande quantidade de universidades portuguesas disponíveis é a facilidade na assinatura dos convênios com o programa, afirma Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-embaixador em Portugal.
"Não que as elas não tenham critério nem parâmetros de aceitação de alunos. Mas a demanda por uma universidade de ponta americana, como Stanford e Har-vard é certamente maior", diz
Lampreia.
Além de não está sendo enviado para instituições de excelência internacional, os bolsistas em Portugal ainda deixam de aprender a segunda língua - outra missão central do GsF.
"Independentemente da instituição em que vai estudar, o aluno retomará ao País com um importante ganho cultural e acadêmico", pondera Erasto Fortes, professor daFaculdade de Educação da Universidade de Brasília.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), também gestor do programa, diz que busca parcerias com as melhores universidades "disponíveis". O CNPq informa ainda que o Ministério da Educação está desenvolvendo o programa Inglês sem Fronteiras para aumentar o número de bolsistas enviados para EUA, Canadá, Austrália e Grã-Bretanha."
Fonte: Estadao.com
Imagem: Lusiada.br