Baixo interesse dos médicos espanhóis
25/05/2013
"Baixo interesse dos médicos espanhóis
25 Mai 2013
Associação de classe da Espanha assegura que desemprego é pequeno e que não há motivos para trabalhar no Brasil
JULIA CHAIB
SILVIO RIBAS
A discussão em torno da atração de médicos estrangeiros para trabalhar no interior do país ganhou fôlego extra — e apoios — na última semana, após encontros de representantes do Ministério da Saúde com representantes de governos europeus, em Genebra, na Suíça. Depois das reuniões, o ministro Alexandre Padilha informou que a Espanha tinha demonstrado interesse no intercâmbio de médicos e pediu que o Brasil apresentasse uma proposta oficial. Mesmo que um acordo seja firmado entre os dois países, resta a dúvida se há, de fato, profissionais espanhóis desempregados e dispostos a vir ao Brasil. Segundo o Consejo General de Colegios Oficiales de Medicos, equivalente ao nosso Conselho Federal de Medicina (CFM), há 2.649 médicos desempregados na Espanha, e não 20 mil, número que o ministro Padilha costuma citar em entrevistas à imprensa. A medida em estudo pelo governo é polêmica e recebeu muitas críticas. Mas ontem, o CFM protocolou no Palácio do Planalto e no Ministério da Saúde uma contraproposta que admite a importação desses profissionais.
O governo defende a medida com o argumento de que há, no Brasil, um deficit de 54 mil médicos, principalmente nas cidades mais pobres do interior. Mas, na terça-feira, em entrevista a jornalistas brasileiros, o embaixador espanhol Manuel Hermoso disse que a prioridade do governo dele é enviar especialistas de áreas de infraestrutura, como engenheiros e arquitetos. Além disso, Hermoso reconhece que boa parte dos médicos desempregados encontra “boas posições de trabalho” em outros países europeus, como na Suíça e no Reino Unido. Representante do Colégio de Médicos espanhol, Fernando Rivas Navarro conta que, em 2012, houve um aumento de 75% no número de médicos que deixaram o país. Dos 2,45 mil que emigraram, 85% foram para países europeus, principalmente Reino Unido, França e Alemanha. “A principal razão é que, nesses países, o reconhecimento das qualificações é direto”, disse ele, se referindo aos diplomas de medicina emitidos pela Espanha.
Sobre a proposta brasileira, Rivas prefere conhecer os detalhes do acordo. Mas adianta que o razoável seria que os médicos estrangeiros pudessem contar com as mesmas oportunidades dos brasileiros, sem limitações como a de atuar apenas em determinadas regiões. No último dia 6, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, anunciou que o governo brasileiro estava negociando com Cuba a vinda de 6 mil médicos. Depois disso, Padilha disse que a prioridade do governo é atrair, principalmente, espanhóis e portugueses, devido ao alto nível de desemprego e à crise econômica que atinge a maioria dos países da União Europeia. Para o vice-presidente do CFM, Carlos Vital, o discurso de Padilha pode significar, realmente, a intenção do governo de contratar os espanhóis, mas ele teme que seja “uma cortina de fumaça jogada na tentativa de trazer os cubanos”.
Vital acredita que dificilmente os médicos europeus virão ao Brasil. “Mesmo que se consolide a proposta, não acho que os médicos virão. Nenhum outro médico com compromissos vocacionais se submete a trabalhar com condições mínimas. Eles não virão também atrás de uma ação limitadora, que tire a liberdade da condição profissional. Somos contra a limitação e a não revalidação do diploma”. Uma das medidas em estudo propõe que o médico estrangeiro seja impedido de fazer procedimentos mais complexos, como cirurgias.
A proposta apresentada ontem pelo CFM pede que sejam abertas mais oportunidades para que os brasileiros sejam estimulados a trabalhar no interior. Mas admite a importação de médicos estrangeiros, desde que os candidatos sejam aprovados em exames de revalidação de diplomas e comprovem fluência na língua portuguesa. Ao fim do período de contrato, que pode durar até três anos, o governo deverá apresentar uma proposta de carreira federal. O CFM também pede a construção de postos de saúde e unidades de pronto-atendimento (UPAs). Também alerta que os estrangeiros devem trabalhar com uma equipe de profissionais de saúde nas localidades mais carentes de atendimento.
O ministério da Saúde ressaltou que sempre esteve aberto ao diálogo com as entidades médicas e informou que a pasta se posicionará a respeito do documento após avaliá-lo.
"Não acho que os médicos (espanhóis) virão. Nenhum médico com compromissos vocacionais se submete a trabalhar com condições mínimas”
Carlos Vital, vice-presidente do CFM
Portas abertas
Proporção de médicos estrangeiros em alguns países desenvolvidos
Austrália 30%
Reino Unido 27%
Canadá 24,3%"
Fonte: Exercito.gov
Imagem: Unicamp.br