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A necessidade de ouvir

06/04/2013

"A necessidade de ouvir

Aqueles que trabalham com pessoas, aprendem rapidamente o poder da palavra como um instrumento capaz de deslizar entre o doce e o generoso, ou descambar para o injusto e o cruel, se preconceituosamente emitimos uma opinião sem saber o que o outro pensa.

Também por isso um sinal seguro de maturidade é a busca sistemática do contraponto e a inclusão de um depende antes da emissão de um juízo definitivo.

Numa tarde de domingo, um trem do metrô de Nova York deslizava placidamente e os poucos passageiros aproveitavam a tranquilidade para ler ou cochilar.

De repente, o sossego foi quebrado pela entrada de um homem e seus quatro filhos pequenos. O pai sentou-se ao lado de uma senhora e fechou os olhos, enquanto as crianças infernizavam a vida das pessoas, gritando, pulando e arrancando os jornais e livros das mãos dos perplexos passageiros.

Quando a situação ficou insuportável, a senhora, indignada, sacudiu o pai e lhe disse: O senhor tem noção do quanto seus filhos estão perturbando a vida dessas pessoas? O senhor não acha que é hora de tomar alguma providência?

E ele, como que despertado de um estado de choque, disse: Sim, a sra. tem razão, e eu peço desculpas, mas acontece que nós saímos do hospital, onde a mãe deles morreu há uma hora, e acho que nós não estamos sabendo como lidar com isso .

Um curto tempo para ouvir, e a indignação se transformou em desejo de ajudar, e a irritabilidade em comiseração.

O consultório, depois de alguns anos de experiência, é um estímulo quase irresistível ao julgamento preconceituoso.

O jeito do paciente, o olhar franco ou esquivo, a atitude diante de um ritual desconhecido, a postura do acompanhante, as primeiras palavras, e muitas vezes o médico mergulha sem paraquedas no vazio do diagnóstico presuntivo. Uma pesquisa demonstrou que 18 segundos é o tempo médio decorrido entre o início do relato do paciente e a primeira interrupção do médico.

Alguns pacientes se queixam que só conseguiram contar a sua história sempre mais interessante que o relato dos sintomas depois de três ou quatro consultas, simplesmente porque o doutor não fora capaz de ouvi-los.

É verdade que a chamada medicina moderna, com muitas senhas, requisições online, consentimentos informados e consultas relâmpagos, está dilapidando o principal encanto dessa maravilhosa profissão: o de interagir com pessoas autenticadas pela fantasia da morte, e dar a este profissional a chance incomparável de se humanizar e, mais do que isso, de se tornar um especialista em gente.

Mas nenhuma dúvida que só preservaremos o velho glamour se percebermos que, independentemente do número de atravessadores, a atividade médica se restringe tão somente a uma relação entre duas pessoas: o paciente e o seu médico.

Desse encontro nascerá o encanto da confiança irrestrita ou a tristeza de uma parceria desperdiçada."

Fonte: Cofen.com

Imagem: 4.bp.blogspot.com