A estação dos pneumococos
06/05/2013
"A estação dos pneumococos
A bactéria que causa a pneumonia, a septicemia e a meningite tem maior incidência no outono. Segundo especialistas, a vacinação é a maneira mais eficaz de combater o micro-organismo
Elian Guimarães
Belo Horizonte — Mais comuns durante o outono e o inverno, as doenças pneumocócicas são responsáveis por 1,6 milhão de óbitos a cada ano em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atingindo com maior frequência crianças menores de 5 anos e idosos. Estima-se que a pneumonia cause a morte de uma criança a cada 20 segundos. A infecção nos pulmões está entre as três principais causas de morte em todas as idades no mundo, atrás apenas das cardíacas e das cerebrovasculares.
Doenças pneumocócicas são enfermidades complexas e fazem parte de um grupo de enfermidades provocadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae, também conhecida como pneumococo. Já foram identificados mais de 90 sorotipos, mas apenas um pequeno subgrupo causa a maioria dos problemas de saúde.
O pneumococo pode se colonizar nas vias respiratórias superiores, causando vários tipos de doenças pneumocócicas invasivas (DPIs), quando as bactérias entram na corrente sanguínea do paciente. Entre as mais conhecidas e agressivas estão a bacteremia/septicemia (infecções bacterianas do sangue), a meningite (inflamação da membrana que cobre o cérebro e a medula espinhal), a pneumonia bacterêmica e empiema (acúmulo de pus na cavidade em torno dos pulmões). A bactéria S. pneumoniae pode se propagar também pelo nariz e pela garganta até o trato respiratório inferior (garganta) e o ouvido, resultando em doenças pneumocócicas não invasivas, como a pneumonia e a otite média (infecção na orelha média).
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Renato Kfouri, a vacinação contra o pneumococo é a forma mais eficaz de prevenção contra a pneumonia. “As medidas preventivas são mais eficazes e têm custos menores do que o tratamento, que envolve o uso de antibióticos, a hospitalização e a presença de familiares para cuidar dos pacientes. As primeiras vacinas desenvolvidas dispunham de um único sorotipo, o que não estimulava uma resposta imunológica de longa duração”, explica o médico.
A partir daí, surgiram as vacinas conjugadas, já existentes para outras doenças, como a tríplice, que é quando se acopla cada cápsula do sorotipo a uma proteína, fazendo com que a resposta seja mais eficaz. Um carregador proteico faz com essa proteína se modifique e se torne mais robusta na resposta da memória imunológica, no nível de anticorpos e na duração de sua eficácia. Dessa forma, as vacinas foram licenciadas inicialmente para crianças, população que mais sofria com essas doenças e, posteriormente, em adultos. “Os primeiros países a usá-las mostraram que vacinando as crianças as bactérias deixavam de circular nas comunidades, diminuindo as doenças entre os adultos e os jovens. É a chamada imunidade de rebanho”, acrescenta, Kfouri.
Maior risco
Para o infectologista, é preciso imunizar os grupos de maior risco: os pequenos, por estarem em processo de formação imunológica; os mais velhos, pelas deficiências da idade que os tornam mais vulneráveis; e os portadores de doenças crônicas, como transplantados, asmáticos, pacientes com cirrose que se submetem à diálise, diabéticos e cardiopáticos.
De acordo com o geriatra e cardiologista Roberto Dischinger Miranda, diretor clínico e vice-chefe do Departamento de Gerontologia e Geriatria da Escola de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a população brasileira, seguindo uma tendência mundial, vem envelhecendo com a diminuição da taxa de nascimentos e o aumento da expectativa de vida. Por isso, “é preciso que nos preparemos para essa nova realidade”. Esse grupo de pessoas tem tendência em adquirir doenças crônicas e infectocontagiosas. “Muitas vezes, o paciente com pneumonia ou gripe geralmente se interna por uma complicação cardiovascular”, explica Dischinger.
Miranda alerta que, no caso de idosos, é comum haver infecção sem febre e ela pode sinalizar por meio de outros sintomas, como tosse ou pigarro: “É preciso identificar mudanças nos padrões de tosse, na coloração do pigarro ou sua quantidade e também falta de ar e até mesmo confusão mental. Esses podem ser indicativos de alguma infecção”. Dores nas costas e na região do peito, diminuição de apetite e taquicardia também são sintomas a serem observados, segundo o médico.
Apesar da gravidade da doença, a maioria da população não sabe que é possível preveni-la por meio da vacinação, tampouco identificar rapidamente os sinais e sintomas. O diagnóstico precoce é fundamental para o efetivo tratamento da infecção. Entre os adultos, é mais comum adiar a procura por auxílio médico. Medidas preventivas são mais eficazes e têm custos menores do que o tratamento que envolve uso de antibióticos e hospitalizações.
As medidas preventivas são mais eficazes e têm custos menores do que o tratamento que envolve o uso de antibióticos, a hospitalização e a presença de familiares para cuidar dos pacientes” Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia Imunização indicada para maiores de 50 anos
Uma vacina contra as doenças pneumocócicas — a Prevenar 13 — foi apresentada à comunidade médica durante a Conferência Latinoamericana de Enfermedad Neumocócica, ocorrida entre 9 e 11 de abril, na Cidade do Panamá. A vacina conjugada 13-valente (contém 13 sorotipos mais prevalentes da doença em todo o mundo) foi aprovada na última terça-feira no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser usada em adultos a partir dos 50 anos. A Prevenar 13 já era indicada para a proteção contra as doenças pneumocócicas em lactentes e crianças de 6 semanas a 6 anos.
Segundo Ana Paula Moschione, pediatra da Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o brasileiro tem o costume de orientar suas vacinas e da família a partir do calendário oficial do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. “Nosso programa é bom e está se ampliando a cada dia, mas ainda não atende todas as necessidades. Existem algumas vacinas que estão disponíveis apenas na rede particular, sobre as quais vale a pena os pais se informarem”, diz.
Para Moschione, essas vacinas são interessantes por serem mais amplas (protegerem o organismo contra sorotipos de vírus ou bactérias que não estão presentes nas vacinas disponíveis no PNI), como a Prevenar 13 e a pentavalente contra o rotavírus; ou porque evitam doenças que não constam no calendário nacional de imunização, como a proteção contra o HPV. (EG)"
Fonte: Cofen.com
Imagem: Mediaserver2.rr.pt