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Desafio é manter a qualidade com mensalidades mais baratas

19/11/2012

19/11/2012 - 06h30

Desafio é manter a qualidade com mensalidades mais baratas

JOSÉ MARCELINO DE REZENDE PINTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A expansão nos últimos anos das escolas privadas "baratas", decorrente da melhoria de poder aquisitivo de parte da população, parece acompanhar a tendência que se vê na saúde, com os planos "populares", e no trânsito, com a opção pelo transporte individual.

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A primeira pergunta que cabe fazer é: isso representa a aquisição de uma educação de melhor qualidade?

Considerando que R$ 500 por mês é quase o dobro do gasto médio por aluno no sistema público no Brasil, poderia se dizer que sim. Contudo, a questão é mais complexa.

Como essas escolas são geralmente pequenas, acabam não tendo economia de escala. A questão é mais crítica no que se refere aos professores, principal elemento de custo e de qualidade na educação.

Com menores salários, essas escolas acabam contratando professores iniciantes que tendem a abandoná-las, gerando grande rotatividade.

FECHAR AS CONTAS

Também apresentam problemas de gestão: muitas vezes seus proprietários estão mais preocupados em fechar as contas com algum lucro no final do mês do que em implementar um projeto pedagógico coerente.

Trata-se, portanto, de comprar gato por lebre? Não é possível afirmar isso, pois, por outro lado, essas escolas acabam se beneficiando do próprio processo de segmentação. Num país de tantos pobres, elas aglutinam os menos pobres, crianças de famílias com mais bens culturais, o que facilita o seu trabalho.

Assim, a tendência é que elas tenham um desempenho melhor nos testes padronizados do que aquele obtido por boa parte das escolas públicas, embora pior que o desempenho das escolas da rede técnica e das escolas privadas de elite.

A EDUCAÇÃO PERDE

O que se pode dizer com certeza é que a educação do país, como um todo, perde com esse processo. Da mesma forma que a opção pelo transporte individual tem levado o caos às grandes cidades, os estudos mostram que, na educação, segregar não é o melhor caminho.

A receita que parece funcionar é a construção de um sistema público de ensino de qualidade, que atraia alunos de diferentes grupos sociais. Foi o caminho seguido pelos países desenvolvidos.

Mas, para isso, teríamos que ampliar significativamente os gastos públicos em educação. Os mesmos R$ 500 por mês, que pesam no bolso do pai, mas não garantem qualidade, se investidos por aluno no sistema público, com reais condições de sua melhoria, demandariam cerca de 7% do PIB (Produto Interno Bruto), quase o dobro do que se aplica hoje na educação básica.

JOSÉ MARCELINO DE REZENDE PINTO, professor da USP Ribeirão Preto, é especialista em financiamento em educação

Fonte: Folha.com

Imagem: Educacao.uol.com.br